Bem Vindo

Você que está sempre por aqui ou você que chegou agora, fique á vontade pra comentar, criticar, adicionar. Nem só da mente louquinha da autora é que o blog se alimenta!

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Receita Médica


Está pertinho da virada do ano e costumo pensar no que mais preciso pro ano que vem. Nisso é inevitável lembrar da minha família, que todo fim de ano me recomendava doses cavalares de algo muito subjetivo: Juízo!
Era um tal de mandar os mais jovens tomarem juízo que não acabava mais, inclusive com direito a medições : "essa menina precisa tomar mais juízo" "Daqui a cinco anos você vai ter juízo suficiente para tal coisa..." e por aí vai. Não deixava de ser verdade, embora todos me advertissem que o juízo não vinha em frascos da farmácia. Isso sempre me fez ter uns pensamentos surreais. E se vendesse juízo lá nas prateleiras? Em xarope, cápsulas ou em pó? O balconista diria: "leve um poco mais desse juízo em lata minha senhora, nunca se sabe quando os sobrinhos podem aparcer para uma visita". Eu iria sempre a drogaria comprar minhas doses. Do jeito que sou, juízo pra mim é placebo, teria que tomar remédio controlado, juízo de tarja preta!
Resolvi elaborar meu próprio receituário de juízo para as futuras gerações


JUÍZO

Nome científico : acomodação gradativa do cérebro às convenções da sociedade
Apresentação: Capsulas - Pó - Xarope - Puxão de orelha da mãe - Tombos da vida (exclusiva modalidade conhecida como mata leão)

Posologia : As doses crescem de acordo com a idade do paciente, costumam ser violentas e dolorosas injeções intravenosas caso o indivíduonão tenha terminado o tratamento até os 21 anos.

Modo de usar: Geralmente o usuário provoca o uso, mas jamais administra o remédio. É importante que alguém mais experiente o faça.
Interações medicametosas: Em nehuma hipótese juízo deve ser tomado junto com a razão, a experiência ou a calma. O organismo pode não aguentar e o sujeito corre risco de surtar, terminando a noite numa esbónia de proporções épicas.

Reações adversas: Indivíduos submetidos a doses maciças de juízo por longo prazo revelaram estado de profunda chatice, tornando-se rabugentos, calculistas e previsíveis. Como tudo na vida convém não abusar.

Histórico clínico: Juízo não é bem tolerado pelo organismo, talvez por não ser algo inerente a condição humana. Logo que entra o danado dói e geralmente provoca instintos repulsivos contra si mesmo, depois passa e não sai mais. Seu uso foi largamente difundido ao logo do tempo, já que a expectativa de vida do homem aumentou muito. Todos acabam tomando juízo mais cedo ou mais tarde para que a vida em sociedade seja possível.


Perguntas mais frequentes:

Como saber se ainda preciso tomar mais juízo?
Está lendo o Boca nu trombone? Certamente precisa de boa dose de juízo...

Não tomei Juízo ainda, o que fazer?
Peça para o Papai Noel, coelhinho da páscoa ou saci pererê (você pode afinal não tem juízo mesmo...) ou então escreva um blog.

Me receitaram juízo em supositórios, é seguro?
Veja lá por onde você anda...



terça-feira, dezembro 05, 2006

Encontre a peça do seu jogo

Este período de fim de ano está sendo bem confuso pra mim. Eu explico: há algum tempo atrás (pouco mesmo) , tudo o que eu queria era terminar o ano empregada em alguma empresa boa, ganhando pelo menos o suficiente para as despesas, passar um Natal em família e ter como perspectiva para ano que vem um ano parecido com outros tantos. Nada de grandes mudanças. Pelo menos era o que parecia.
Parecia que eu estava conformada em não ter conseguido ser a jornalista que eu achava que ia ser. Parecia que eu não estava realmente num momento de tentar começar nada novo. Até que depois do meio do ano me inscrevi no vestibular. Não foi uma coisa planejada. Fui na dica da minha cunhada, escolhi o curso pensando no que gosto de fazer e nas oportunidades que Natal oferece. Nem ia me inscrever, mas meu pai - falei muito bem dele por aqui - me deu um empurrãozinho, as inscrições foram prorogadas e acabei colocando meu nome à prova.
Quando estava pensando em estudar mais a fundo, me aparece trabalho. Dois meses! Como não sou de cruzar os braços diante de uma empreitada pensei: ótimo, quando acabar, faço as provas, depois vem as festas e ano que vem começa tudo de novo. Ser aprovada em me passava pela cabeça, já tinha até me sentido culpada por entrar nisso sem preparação.
O dia chegou e depois da primeira prova me pego cheia de vontade de passar. Já me imagino fazendo o curso, aprendendo coisas novas, tendo oportunidades diferentes de trabalho, estágios. Uma empolgação começa a tomar conta de mim. Fiz todas as provas dando o máximo que pude, tentando me lembrar de conteúdos estudados há dez anos (tô ficando véinha mesmo). O resultado da primeira fase saiu e fiquei ainda mais empolgada pois não fiz feio.
Agora que o que está feito está feito começei a pensar sobre as revoluções que todos nós podemos fazer na própria vida com decisões que duram segundos. Sobre como a gente sempre faz o que tem vontade, mesmo inconcientemente. Claro que eu queria fazer alguma coisa pra mudar, mas não sabendo o quê, acabei fazendo o que era certo pensando estar apenas de brincadeira.
Estou certa de que isso acontece todo dia na vida de todo mundo. A pessoa que faz uma besteira pra acabar com o casamento que no fundo ela não queria, que está sempre esquecendo as coisas porque quer que cuidem dela, que inventa uma desculpa pra sair do caminho de todos os dias porque na verdade espera esbarrar em alguém especial. São muitos os exemplos, mas em todos, e provavelmente na sua vida já teve algum, uma coisa aparentemente insignificante mudou sua vida. è como um quebra-cabeça. A gente tem todas as peças, o danado é colocá-las no lugar certo.
Agora não sei mais que destino darei aos meus dias em 2007. O que era monotonamente programado agora está por saber. Depende, mais uma vez, do resultado que só vou conhecer em meados de janeiro. É mais saudável viver a vida com um horizonte à frente, com planos, com esperança. Que venha o próximo ano!

terça-feira, novembro 14, 2006

O namoro acabou!!!


O texto de agora é uma homenagem a minha cunhada Adriana, que casou-se hoje no fim da tarde com Rogério. Foi bonito, simples e muito emocionante, pois onde há amor sempre há emoção. O casamento foi para poucos, mas o discurdo lido por Gustavo está aí para todos lerem:


Nos reunimos aqui hoje porque o namoro de Adriana e Rogério acabou! Nada mais de marcar hora para ver o namorado, de buscar a namorada para ir ao cinema. Ficou para trás o tempo em que eles tinham dia e hora para se ver. Rogério não vai mais deixar Adriana na casa dos pais depois das festas, não precisam mais improvisar um cantinho no quarto nos fins de semana. Eles agora dividem o mesmo teto! Farão parte da vida um do outro como nunca imaginaram. Provarão do gostinho da liberdade que é decidir tudo por eles mesmos e, insanamente, dividem até o mesmo guarda-roupa.

Dizer que o namoro acabou, por mais estranho que pareça, não é ruim. Minha irmã começa agora uma linda fase. Deixou um lugar vago (ou dois), na nossa mesa de jantar, mas vai formar uma família que trará alegria à nossas festas. Estou certo de que não perdi a presença de minha irmã. Apenas ganhei mais um irmão, quase da minha idade e que já é tio do meu filho.

Nossos convidados de hoje presenciaram um casamento com detalhes que fogem bastante do tradicional. Nada de igrejas, daminhas ou filmagens. Nada de lugares-comuns para esses meus queridos. Que eles sejam sempre levados por esse sopro de autenticidade e ruptura com comportamentos pré-estabelecidos. Desejamos a eles serenidade e sabedoria para fazer das dificuldades um aprendizado. Que não fujam da rotina, mas sim que tirem dela o que há de bom. Que sejam rotineiros os olhares de admiração, o sorriso de bom dia, o bom humor ao encarar mais uma segunda-feira. Que a casa de vocês exale o perfume dos melhores momentos da vida: cheiro de café, de lavanda, de roupa recém lavada, de uma torta de limão, de cachorrinhos novos, de grama molhada, de roupinhas de bebê, de peru no Natal, e de tudo o mais que vocês vão sentir quando apertarem os olhos e lembrarem do cheirinho que só a casa de vocês tem.

Que tenham em mente nunca tentar mudar o outro, mas conviver com o ser humano maravilhoso que escolheram para casar... e não teimar em pensar naquelas qualidades não muito admiradas.

Que sejam leais um ao outro. Duas pessoas que se amam se bastam. Não faltará quem se aproxime confiando na fragilidade dos supostos casamentos que existem por aí. É suficiente que sejam apenas o que sempre mostraram ser até hoje.

Tornem o lar de vocês o lugar para onde se tem urgência de voltar.

Façam da sua família motivo de orgulho em seus corações.

Busquem nos olhos um do outro as respostas. Não economizem o carinho, o zelo, a paixão.

Transbordem de felicidade e inspirem mais e mais pares a se casar!!!

terça-feira, agosto 15, 2006

AGOSTO


Este é o melhor mês do ano! A despeito dos que rimam agosto com desgosto, já faz uns seis anos que eu fico rasgando folhinha esperando julho terminar. Eu explico: Agosto é o mês das férias do meu pai. Ele mora longe por causa do trabalho e só vem aqui duas vezes ao ano (quando tudo conspira a favor, tem uma colher de chá na páscoa). Depois vem as coincidências – dias dos pais e aniversário dele na segunda quinzena – o que só faz a coisa toda ter ainda mais graça.

Geralmente são os meninos que nutrem uma certa idolatria pelo pai,mas eu tenho lá meus motivos. Um deles é que quanto mais os anos passam mais facetas legais a gente descobre. O cara não está ficando um velhinho ultrapassado, daqueles que perdeu o bonde da tecnologia, ou pior, dos que vão criando um puritanismo, como se ficassem santos com o passar do tempo, reclamando de qualquer pacadilho que apareça na tv. Papai não, com ele não tem preconceitos (quer dizer, tem alguns, mas ele disfarça bem). Claro que como todo cara na casa dos “enta” ele perde a paciência fácil e se estressa com coisas banais, mas como hoje os de vinte também estão assim, ele passa batido.

O Oitavo mês do ano é tempo de ouvir a risada do meu pai encher a casa, falar de filmes que ele viu e dos que não viu, ir a restaurantes e vê-lo reclamar do serviço e depois dizer que não é exigente, de ter um monte de roupas bonitas e usar as de sempre porque “estava em cima”, passar horas dasatando nozinhos de um saco ou tirando cada durex de um papel, de ver ele deixar cair ou tropeçar em algo e dizer: P.Q....!!! . Dizem que ele parece o Lineu (da Grande Família), ele diz que é exagero, mas que parece, ah parece.

Também tem umas coisas que ele faz ou fala sempre que determinada coisa ocorre. Se passa pelo meu irmão no banheiro ajeitando o cabelo: mas rapaz...você acabou ficando careca mesmo hein? Ao me ver ler à meia luz: Porque tá lendo no escuro? Isso faz mau... Se vê alguém descalço conta que deixa os chinelos ao lado da cama e nunca anda sem eles, só dormindo ou no banho (realmente nunca vi meu pai de pé sujo) quando vê a amada fazendo algo, falando no telefone e passando mensagem em outro diz: Deus me livre, por isso que eu não quero celular. E tem sua clássica “posição de xícara” (em pé com os punhos cerrados apoiados na lateral da barriga) que ele se posta sempre que observa algo que não o agrada muito.

Gosto de ver como ele simplifica coisas que dão ataque cardíaco nos outros. Pode ser um prazo se esgotando ou uma falta de grana e ele lá, impassível, tentando resolver as coisas. Sem surtar nem achar que o mundo acaba ali. Tomara que por dentro também fique frio, senão não adianta viu?

Adoro, principalmente, parecer com ele. Reclamo do meu cabelo enrolado, da minha mão quadrada e dos pés de galinha que ele tem e já aparecem no meu rosto. Tudo onda, eu mostro pra todo mundo que pareço com ele e sou até inteligente como ele, só não em matemática...Quando dou por mim, lá estou eu em posição de xícara olhando pra alguma coisa e lembrando dele. Provavelmente ano que vem não estarei mais morando com ele, é da vida, mas vou achar bem estranho.

É muito bom amar e admirar uma pessoa de quem se tem monte me coisas boas para falar, mas talvez a melhor delas tenha sido que ele nos criou com consciência ética, respeito à vida e mais vontade de aprender do que de ter. Ele ter ido morar longe foi um duro golpe no coração da família, mas como tudo tem seu revés, foi nossa oportunidade de ver que ele é um tesouro e não ter vergonha de demonstrar nada. Ainda não tenho a experiência de vida dele, nem sei se um dia vou ter, mas o meu pai (já deu pra perceber que eu adoro dizer meu pai né?) conseguiu ser um pai muito melhor do que o que ele mesmo teve. Fez diferente, sem seguir tradição, opinião dos outros ou be-a-bás de auto-ajuda. Ele nunca ficou se comparando nem se inspirando a ninguém em nada, muito menos em ser pai. Eu não sou tão altruísta, fico comparando tudo e digo agora o que constato sempre: Meu pai ganha de capota, disparado de todo mundo, é o último biscoito do pacote, a oitava cor do arco-íris.

Se a vida for mesmo uma só, foi uma sorte de mega-sena nascer filha dele, mas se forem várias as nossas passagens por aqui, quem sabe um dia eu consiga retribuir tudo isso?

sábado, julho 29, 2006

Estão tentando te enganar


Assim que a copa acabou várias pessoas se deram conta que torciam por um time fadado à derrota. Nem lembro mais por que, mas quem gosta de futebol e brincava de escalar a seleção na mesa de um bar sabe cada motivo. A mídia também sabia cada motivo, mas fingiu que não sabia para poder fazer matérias ufanistas, cheias de patriotices. Chegou-se ao ponto de ter uma matéria especial para cada jogador “de ouro” que tínhamos. Um show de tomadas com lances fantásticos, entrevistas, especulações e a certeza que tínhamos um técnico primeira de luxo, que formava equipes vencedoras. De repente, os meios de comunicação “descobriram” que a junção de muitas estrelas não garante nada, que Parreira inflou os egos do pessoal com a vitória fácil e que Deus é brasileiro, mas parece que estudou na Sourbone.

Tudo bem, passou, e sofrer na copa faz parte. Agora vem o Pan, que em 2007 vai ser por estas terras, e a euforia já começa a despontar aqui e ali. A coisa anda devagar e de pronto mesmo só tem aquele sol sem nome. Os russos e americanos vão se fazer, como sempre, e como sempre a gente vai torcer pensando que está com a bola toda (opa! a bola a gente perdeu pra Zidane).

Seria bom se torcer pelo esporte fosse uma atividade saudável e consciente e não a única manifestação de amor ao país que nos permitimos. Que pena que, pra nós, torcer dói. Vamos para as arquibancadas levando toda nossa frustração, toda nossa esperança e gritamos como se daquilo dependesse o ar que respiramos. Que pena não termos o verdadeiro espírito esportivo, não sabemos apreciar a vitória do outro. Que pena que vaiamos nossos atletas quando eles perdem. Que pena a mídia vender um produto que não existe para exaltar um desempenho que ninguém vai ver.

Quem passa por várias copas, olimpíadas e Pans da vida sabe que o brilho é exatamente não saber quem vai ganhar. Se só desse Brasil não haveria graça nenhuma. E quando o Brasil ganha, a “sensação” de felicidade nunca é tão duradoura quando pintam. Simplesmente porque não devemos esperar por causas externas para sermos felizes. Pode ser que você não tenha achado que a vitória do país fosse lhe fazer feliz, mas certamente já se pegou dizendo que “quando eu conseguir tal coisa....” ou “se tal coisa fosse diferente....” aí sim seria feliz. Triste ilusão, estão tentando te enganar de novo! Não acredite em fórmulas universais de alegria, em felicidade conseguida em suaves prestações. Nós seremos felizes a partir do momento que encontrarmos amor e satisfação com o que temos hoje. Todo mundo tem problemas, isso ninguém escolhe, mas ser derrotado por eles é opcional.

terça-feira, julho 11, 2006

Mais um Recomeço


Passou uma semana. Às vezes parece que passou mais tempo, outras parece que o tempo parou naquele instante. Esperamos 18 dias pela recuperação de Miguel e fomos confrontados com o que ninguém quer ouvir de um médico que sai porta afora da UTI. Não deu pra ele!

Ouvir isso foi um soco no estômago da nossa amiga chamada esperança. Nesta hora ela foi embora animar outros corações. Pra nós chegou um balaio que continha surpresa, revolta, indignação e saudade. A surpresa é avassaladora, dói, faz com que a gente queira se beliscar, acordar do pesadelo. Você abre o olho e lá está a verdade, o fato, te olhando como um carteiro que entrega uma encomenda que ninguém quer receber, mas que vai ficar ali nas suas mãos.

A revolta nós rapidamente mandamos embora por que talvez esse fosse mais um drible do destino para que ele não sofresse ainda mais. E também não dá para se revoltar com a morte. Mais dia menos dia ela chega e faz seu trabalho e ainda é capaz de plantar uma semente de depressão em quem insistir na revolta.

Nossa indignação ainda não foi controlada de todo. É do ser humano encher seus pensamentos de “se”. Dizem que a vida no se... é uma maravilha, só acontece coisa boa! Ainda assim é inevitável pensar em pequenas atitudes que poderiam sim levar a situação pra outro rumo. Indignar-se é inevitável, mas quase tão ruim quanto se revoltar. Os indignados nunca fizeram muito pelo mundo nem por si mesmos, pois são ranzinzas e passam mais tempo reclamando do que fazendo.

Nos restará a saudade. A célebre palavra que dizem só existir em português passará a fazer parte da vida da família (da minha é velha comadre desde os oito anos de idade) e estará em cada canto de casa, em todo ida à universidade e todo passeio no shopping que ele gostava. A saudade vê quem se ama até em desconhecidos que se parecem, em um jeito de passar a mão no cabelo, num lance de olhar, num perfume. A tal saudade não mede esforços para aparecer, mas é o que de melhor podemos cultivar em nossa vida. Ninguém precisa ter vergonha de ter saudade seja lá do que for. É algo que de tão humano serve como prova de que estamos vivos. E vivos que estamos enfrentaremos mais essa para que o show da vida continue e no fim sejamos tão parabenizados como ele foi. Um beijo Miguel, valeu muito a pena.

segunda-feira, junho 19, 2006

Muito amor e esperança


Esta página na verdade está em suspenso, mas não posso deixar de exprimir alguma coisa. Meu segundo pai está no hospital. Talvez seja um dos momentos mais difíceis para mim desde que conheci o pai do meu filho. De lá pra cá as duas famílias com que convivo tiveram suas dificuldades, mas todas são superadas. Os doentes sempre estiveram dentre os idosos e por mais que doa é no mínimo esperado que a idade avançada perca seus sopros de vida.

Porque a vida é mesmo um leve soprinho que Deus nos deu para que cada um aproveite muito bem. As máquinas que o homem criou são mais fortes que ele mesmo. A vida do homem, este ser tão inteligente e tão insensato ao mesmo tempo, pode acabar num tropeção, num engasgo, numa rua atravessada a esmo ou por causa de um vírus minúsculo.
Todos nascemos com o mesmo destino e mesmo sabendo do fim inevitável nos damos direitos de imortais. Arriscamos nossa vida à toa, brigamos com quem se ama, comemos toda sorte de alimentos nocivos à saúde e, pior de tudo, entregamos nossa mente ao ritmo frenético da vida movida a consumo, contas para pagar e perdas de tempo inúteis.

Não há livro de auto-ajuda que possa nos colocar verdadeiramente diante da realidade, ninguém, prepara o filho para o dia de sua partida. O grande mistério da vida talvez seja este, de mesmo após milênios, de geração a geração, a partida nunca seja assimilada como algo normal. Provavelmente a psique humana não funcionasse dessa forma, pois somos movidos a planos.

Sei que ele vai sair de lá, quando o vi tive certeza que o teria de volta em casa pedindo um café, fazendo suas piadas e sorrindo para meu filho. Enquanto isso não acontece vou segurando a onda para dar colo a meu amado, minha sogra e minha cunhada, como uma boa nora. Mas sofro como uma filha a mais que ele teve sem se dar conta. Pois foi como filha que ele sempre me tratou. Torçam todos por nós!

domingo, junho 11, 2006

Meu Big Brother


Estive ausente e desta vez não foi culpa minha. Tive tempo, disposição e assunto pra atualizar a página, mas... meu irmãozinho caçula foi consertar o computador e o imbróglio demorou quase uma semana. Certo que o computador é um lentium, mas o problema foi uma senha de administrador que ele colocou e não lembrava. Como depois da tempestade tudo fica com tons mais cômicos, foi realmente hilário ver a cara de espanto e indignação dele por não lembrar uma senha que ele mesmo criou. As horas se passavam e seu semblante ia ficando mais preocupado, o curcuito sala-cozinha-quarto foi feito umas 100 vezes e nada da senha pintar na mente do cara. A princípio não levei a sério "deve ser onda, já já ele lembra". Que nada, foi preciso uma noite de sono para que a combinação viesse à tona. O alívio foi geral.

Depois vi que o episódio foi só mais uma manifestação da instigante personalidade de meu grande irmão (o peso ele não revela, mas é grande). Ele se diz uma pessoa descomplicada, sem manias, low profile e não perde a oportunidade de mostrar como sou esquisita e desatenta. Mas a verdade é que o danado tem umas coisas que até Deus duvida.
Sei que serei espinafrada depois desssa, mas o caso merece. Certamente já aconteceu com você de estar dirigindo num caminho e entrar em outro (um retorno por exemplo) por força do hábito. Com ele acontece todo dia. Se tem que entrar na via costeira, ele pega em frente, ou vice versa, o que importa é errar o caminho. No campus ele precisa entrar no setor dois, mas passa e diz: "pô, você aí sem fazer nada, feito um boneco de olinda e nem avisa". Aliás, experiemente avisar: "Tá me achando com cara de leso???". Quando ele insiste em pegar um caminho errado duas vezes seguidas (na mesma hora) arranja logo uma desculpa cósmica: "sei não, a pessoa pegar duas vezes aquele caminho sem querer... comecei a pensar que era uma aviso sabe? Fui por lá mesmo, vai que aconteceria algo se eu fosse no lado certo..."

Não acaba por aí, experimente sentar à mesa e pedir que ele lhe alcance uma faca por exemplo, ele vai se virar e te passar tudo do faqueiro com a cara mais boba e rir, rir muito, cada vez que você reclamar ou respirar fundo. Também tem o "momento África". Ele acorda sem vontade de viver, senta à mesa e boceja como um leão contrariado, com direito até a movimento de cabeça (sem juba, pois o mesmo é careca). Presenteá-lo ficou cada dia mais fácil, o gordinho resolveu aderir ao visual "turma da mônica" - suas roupas são sempre iguais todo dia. Calças ou bermudas jeans da coleção econômica da Riachuelo e camisetas brancas daquelas que vendem em kits da Americanas. Diz que assim faz um estilo e ainda economiza. Faz sentido. Bem, falta falar dele brabo. Há dias em que ele oscila do mau humor pra grosseria e faz com que qualquer tentativa de aproximação pareça ridícula. Ele mata com o olhar e pronto! Mas passa logo e até hoje ninguém morreu. Se quiser uma amostra diga que ele está a cara do Ed Mota ou passe lá em casa depois da publicação deste texto - hi hi hi hi

O fato é que ele é um cara único (ele diz que dizer que uma pessoa é única é algo muito óbvio, já que este adjetivo só não se aplica a gêmeos) do tipo que disputa sucrilhos com meu filho, deixa o que está fazendo pra ajudar os outros, xinga quem ele ama e ignora sumariamente quem ele não gosta. Ensina mil bobagens pro sobrinho e repreende o pequeno por falar palavrão. É a síntese do ser humano, a contradição em si próprio. É pra você este post, uma homenagem pra te fazer pesonagem do mundo virtual e comemorar os dez dias sem postagens. Beijos !!! (ih ele odeia essa babação de beijos...)

quarta-feira, maio 24, 2006

Folheando o livro da vida


Esta semana inventei de voltar a estudar. Fazer o caminho de volta a faculdade para galgar outras dimensões profissionais. Opa! Este frase ficou rebuscada demais e não disse a verdade. De novo: Eu quero fazer outro curso porque não há muitas oportunidades em jornalismo e porque a profissão paga pouco. Pronto, menos escritora e mais jornalista.

Claro que chegar a fazer outro curso depende de passar outra vez no vestibular. A primeira já foi uma façanha, mas vou ter que fazer o raio cair duas vezes no mesmo lugar. Pensei que o mais difícil fosse ter de estudar algumas coisas de novo. O segundo grau tem uma tuia de coisas que simplesmente a gente não usa nunca. Rever certas matérias chega até a ser engraçado.

O que eu não esperava era lembrar de coisas de mais de 10 anos atrás. Não, infelizmente não foi a matéria que eu lembrei (ó lástima...), foi toda a movimentação de vida que existiu naquele período. Vou folheando os livros e lembro como o futuro nos parecia distante naquela época, como vivíamos tudo na base do tudo ou nada fazendo tragédia grega de qualquer coisa. Hoje lembrei até da aula que o professor deu pra explicar as guerras do oriente médio (e esse povo segue brigando até agora) A turma que andava junta era composta por meninas que tinham famílias bem diferentes, mas que eram capazes de dizer quase a mesma coisa pra gente – menina, a vida não é só festa (pra gente era), roupa nova não tem importância (gente de 16 é bloqueada pra este tipo de informação), escolham bem o curso (com base em quê?). Demos muito trabalho, sobretudo eu, que não tenho muita paciência para dissimulações. Éramos felizes na nossa inconseqüência e na nossa falta de compromisso com a realidade. Nossa maior demonstração de compromisso com a vida foi resumida por uma colega: “acho bonito que vocês não estudam pra conseguir nota, estudam pro vestibular”. E era mesmo, mas de bonito não tem nada, fora que tinha muita fachada da minha turma. Gostávamos de passar por sabichonas sem ser.

Esse era o grande horizonte que tínhamos à frente. O vestibular. Passar por ele era prova de dar conta do investimento da família, era ter moral com os amigos, era virar um pouco adulto. Era mais importante do que saber o que ia se fazer com o tal curso escolhido. E foi aí que eu e mais uns tantos de perderam na imensidão de caminhos que há depois da porta da faculdade. Idealizamos tudo, até a carreira que queríamos, mas não tínhamos a mínima idéia de como fazer pra chegar lá.

Hoje pra escolher um curso estou ponderando mil coisas, pensando em minhas habilidades, meu modo de trabalhar e vejo que falta muito ainda o que ensinar para os jovens que fazem vestibular. Vejo os colégios chamarem profissionais para dar palestra pros alunos. Mas porque só chamam os de ponta, com estremo êxito na profissão? Numa palestra pra 150 alunos, se sair dois de ponta dali é muito. Eu chamaria o profissional médio de todas as carreiras. Aquele que é empregado, que recebe ordem e não nada em grana. Seria menos glamour, mas seria bem mais real e mais correto com aquela platéia que precisa ver a vida como ela é.

domingo, maio 14, 2006

Pra que serve um sonho?


No mês de maio padeço de um mal que costuma pegar as pessoas no fim do ano. A velha reflexão a cerca do quanto o ano que se passou foi ou não proveitoso, se fizemos coisas que levam pra frente, se aprendemos mais, se a vida avançou ou não. É a “retrospectiva” que nos realistas costuma causar mais angústia que prazer. O nível etílico das festas de dezembro me impede de entrar nessa furada e ela acaba acontecendo por volta do dia do meu aniversário. Acho até pior, já que além da reflexão tenho que adicionar mais um aninho no bolo – o que é péssimo, embora eu já tenha solucionado isso aproveitando a pouca memória do brasileiro – faço 23 três vezes, 26 umas duas e vinte sete talvez só ano que vem.


O período meditativo deste ano está servindo para mostrar que não adianta muito fazer projeções para o ano seguinte! Geralmente acontecem coisas que não são de nossa vontade, mas acontecem, e aí temos que nos virar nos trinta. Nada contra planejar, mas desisti de idealizar os resultados. A surpresa que vier será lucro. Isso vale tanto para vida profissional quanto para dietas. Outro ponto nebuloso é a vontade nefasta de brincar de futurólogo que quase todos nós temos – “daqui a dois anos estarei na cadeira do chefe”, e passado os dois anos lá está você, teimando em fazer profecia.


Não sou contra fazer planos. Planos que tenham capacidade de se tornar realidade. Num plano estão listados todos os pontos e o trajeto necessário para chegar ao ideal almejado. O resto é sonho! E na verdade a gente sonha muito mais do que planeja. Num mundo onde a velocidade das coisas e informações é atroz, onde a violência nos tirou muito da liberdade, onde quem nos representa nos envergonha é mesmo necessário sonhar.


Talvez porque sonhos não sejam feitos necessariamente para se tornar realidade. São momentos de pura fantasia. Um pouco do que o ser humano perdeu quando lhe foi imposto que precisava ser competitivo desde o berçário e que falar três línguas é essencial. Fugir da realidade de vez em quando é um ótimo artifício para manter a mente sã. A partir deste mês vou fazer planos mais pé no chão, mas com a certeza de que vou sonhar alto, todo dia e sem sofrer se nenhum deles se realizar.

sábado, maio 06, 2006

Pimenta no dos Outros é Refresco


Pimenta Neves sai em liberdade do julgamento que durou 34 horas. Opinião pública pedindo justiça, família com coração despedaçado, advogados da acusação e promotoria empenhados em mandar o monstro pra cadeia. Em vão. "Ganhou" como prêmio poder responder todos -TODOS - os recursos em liberdade. Se levou cinco anos e oito meses pra ocorrer o primeiro, dá desgosto pensar quanto tempo esta palhaçada vai levar.

Matou uma moça linda, honesta, que só queria viver, porque se achava o dono do mundo, senhor de todas as coisas. Ela não quis mais o namoro, ele decidiu que ela não viveria mais. Hoje tenta passar a imagem de que matou sob forte emoção. Deve ter sido a emoção de saber que por ter dinheiro, passaria muitos e muitos anos em liberdade e que se, e somente se, parasse na cadeia já seria na decrepitude de sua velhice, já perto de seu juízo final (esse sim deve levá-lo para um lugar bem merecido).

A certeza da impunidade - principalmente para ricos - está produzindo no Brasil uma nova casta de criminosos. Eles conhecem bem a lei e não se importam de confessar os crimes. Tem advogados tarimbados que fazem fortuna defendendo crápulas às custas das brechas na lei.

Mas e a lei? Vista sempre como tão cristalina, tão reverenciada, a que tarda mas não falha. Por vezes a gente esquece que estas leis são feitas e aprovadas por uma gente que rouba dinheiro público, engana milhares de eleitores, responde trocentos processos e usa desta mesma lei pra não ver o sol quadrado. Somos uma nação de vítimas de uma lei que foi feita pra livrar o condenado de sua pena. Ele até tem julgamento, mas só de mentirinha, pra acalmar os ânimos, é só um pequeno desconforto antes de voltar pra casa. Fica mesmo na cadeia aquela pobre mulher que roubou uma margarina ou Marcos Mariano, motorista de táxi que passou 19 anos na cadeia mesmo sendo inocente (nossa, a propalada justiça não descobriu que ele não era culpado?).

Se você tivesse um banco entregaria a chave do cofre a um cleptomaníaco? Deixaria sua padaria na mão de um comedor compulsivo? Deixaria seu filho na casa de um tarado? Então porque deixamos nossas leis para uma turma que só pensa em nos passar pra trás? Mostraram ontem para a sociedade que matar não dá cadeia. Cuidado por onde você anda partir de agora...

terça-feira, maio 02, 2006

Lapada na Censura


Ontem me pegaram pra Cristo. Minha cunhada descobriu que meu filho de sete anos gravou lapada na rachada em um CD. Isso aí mesmo! Tanto atentou a mim e ao tio que, não suportando mais tanta insistência, o pimpolho ganhou sua lapada para ouvir quantas vezes quiser. A lista de impropérios foi grande. “Como você escreve esculachando a música e seu filho grava? Você permitiu isso?” Argumentei que tanto fazia ter ou não um cd já que o hit toca no rádio toda hora (e, convenhamos, eles capricharam no ritmo). Não convenci. “Mesmo assim, desse jeito é um incentivo seu” terminei a conversa com um péssimo eu não acho.


Mais tarde, como a gente se adora, voltamos ao assunto. A junção de uma pedagoga com uma jornalista pode ser surpreendente! Mesmo levando na brincadeira deu pra ver que ela realmente acha insano como eu libero quase tudo pra ele. Não sei muito sobre criar crianças, mas sei pelo menos o triplo sobre como não cria-las. Estou certa de que esconder dos pequenos as mazelas do mundo, proibir manifestações de gosto pessoal, vetar coisas ou amigos em casa e fazer do lar o “ambiente puro, onde não se vê não se escuta nem se fala porcaria” é problema na certa. Funciona de mentirinha só enquanto são pequenos. Depois o castelo da mãe iludida cai e ela diz que não sabe de onde o filho tirou aquelas idéias...


Eu também não queria ele escutando lapada. Assim como não queria que ele colocasse a mão suja na boca quando era pequeno, gostaria de ter evitado as quedas que castigam joelhos e cotovelos, preferia que não brincasse com meninos malvados e muitos etc. O que eu aceito deve levar muita mãe pro analista. Ele pode ser pequeno e depender de mim, mas isso não me dá controle sobre a mente dele. Só permitindo eu posso ajudá-lo a escutar também outras coisas, filtrar e chegar por ele mesmo à conclusão de que aquela música não vale nada.


Inteligente como sempre, a pedagogia aceitou os fatos do jornalismo nu e cru. Na minha profissão é preciso se basear em fatos, a análise nunca acontece por hipóteses. O que vejo são adolescentes que não conversam nada com os pais. E pais que acham seus filhos um primor de educação porque “aqui em casa nunca deixei entrar essas coisas”. Eu deixo porque sou ponte, não sou parede. Quero que ele tenha a certeza que pode me mostrar qualquer coisa que queira (e olha que ainda assim ele vai esconder muuuita coisa – experiência própria). Eu deixo porque acho que a educação da hipocrisia já fez vítimas demais. Deixo principalmente, porque assim deste meu jeito ele já ouve também Gal Costa, Mozart, The Calling, Chico, Beatles, Luiz Gonzaga e muita coisa boa! Será que os anjinhos que são proibidos de ouvir lapada já passaram de Xuxa?


quinta-feira, abril 27, 2006

Cai como uma luva


O discurso mais propalado pelos empresários do país na hora de reclamar dos impostos é o de que a carga tributária os impede de aumentar salários e principalmente contratar mais. Todos sabem que a mordida do leão é doída e que infelizmente grande parte serve apenas para custear a “máquina”, pagar funcionalismo e previdência. Outra parte custeia os péssimos serviços que o governo nos oferece e desaparece nos ralos dos vários dutos (aqui em Natal o da vez é o foliaduto) que ajudam a escoar o erário.

Ainda assim, sempre que escuto as lamúrias do empresariado fico com pé atrás. Raiva de pagar imposto eu entendo, mas custo a acreditar que eles realmente aumentariam salário de alguém. A dúvida fica apenas em nível local, imagina-se que no sudeste a medida realmente faria efeito para quem merece. Falar dos hábitos e cultura de nossa cidade é difícil, pois Natal está cada vez mais cosmopolita e o progresso avançou rápido por aqui. Já a cultura do empresariado local é mais homogênea, enraizou-se com força e resiste a consultores, tendências e pedidos de demissão.

Aqui se implantou a mentalidade de que todos devem ganhar salário mínimo. (há, claro, umas poucas e honrosas exceções, a quem se deve tirar o chapéu) De resto quando se oferece um pouco mais é a título de “comissão”. A desculpa é a situação da empresa, a dificuldade de manter o funcionário e por aí vai longe. Não tirei minhas conclusões a esmo. Observo as nuances perversas deste mercado há uns dez anos. Exige-se um funcionário exemplar (não que todos sejam) para tratá-lo como qualquer outro. Nesta terrinha já vi a diferença de salário entre um faxineiro e um auxiliar administrativo não ultrapassar 100 reais.

Como se não bastasse, num mundo onde tudo é on-line, os patrões gostam de efetuar o pagamento em dinheiro, fazendo uma fila na frente da porta, criando um ambiente semi-feudal. Não raro é o próprio dono que o faz, de cara feia, para espantar eventuais pedidos de aumento. Outra prática comum por aqui é comparar o trabalho altamente especializado de alguém que estudou muito com o de outra pessoa que faz algo completamente diferente e soltar: “veja fulano, trabalha tantas horas a mais que você e não vive reclamando”.

Os cursos de gerência, de liderança e administração estão cheios de empresários que se sentem arrojados estudando. Deve ser pra fazer tipo, pois da porta pra fora esquecem que um colaborador – para usar a palavra da moda – produz menos quando se sente desvalorizado, que não se consegue comprometimento na marra, que salário mínimo deve ser piso e não regra e, principalmente que vale muito ter alguém que não vai trabalhar todo dia pensando em ir embora. Esquecem tudo! A desculpa dos impostos é uma muleta excelente nestas horas. De tanto ver e ficar sabendo de coisas assim é que espero com dupla ansiedade por reformas. Quem pensa dessa forma não vai aumentar salário de ninguém e será curioso acompanhar qual será o novo bode expiatório que levará a culpa pela situação dos trabalhadores.

segunda-feira, abril 24, 2006

O Novo Termômetro da Mídia


Poucas instituições gozam de tanto prestígio com os brasileiros como a imprensa. É a responsável por informar grande parcela da população através da tv e contribui para a formação de opiniões com suas análises e pontos de vista. Apesar das batatadas que vez por outra acabam vindo a público, os meios de comunicação cumprem bem seu papel no Brasil. Cabe também à imprensa a missão de fiscalizar o poder. Missão que é de direito de qualquer brasileiro, mas nem todos tem tempo livre para assistir sessões da câmara, investigar falsos serviços prestados e outras artimanhas.

No imaginário popular o que sai na imprensa é relevante, logo - imagina o público - deve levar em consideração pontos importantes para dar base as suas afirmações. Para o povo, deu na mídia, ganhou o mundo! Artista só tem “valor” quando está aparecendo, atletas ganham mais fãs à medida que dão entrevistas e personalidades efêmeras lutam por mais instantes de fama. Até os assuntos nas rodas de conversa são permeados pela pauta do noticiário (alguém viu aí mais alguma conversa sobre mãe que abandona bebê recém-nascido?). É comum ouvir: “você viu menina, deve ser coisa importante mesmo essa ida do brasileiro à lua, deu em todo lugar”
E a própria mídia, como busca saber o que está em alta? Quais argumentos usa para validar o que está dando como senso comum ou para afirmar a popularidade de alguma coisa? Para nossa surpresa, de uns tempos pra cá, o dado mais usado para confirmar que aquilo que está se mostrando realmente tem relevância é, pasmem, a quantidade de comunidades no Orkut dedicadas a pessoa ou assunto! Fale-se sobre Suzane Risthofen, sobre Ronaldinho, sobre novelas ou até da falta de emprego lá vem a deixa: já são inúmeras as comunidades no Orkut dedicadas ao tema. Agora não tem matéria de polícia que não mostre o delegado “desbravando” a rede em busca de pistas. Gente muito séria tem usado o expediente. Já faz algum tempo que as principais revistas do país aderiram ao modismo.

A mídia, como qualquer coisa inventada pelo ser humano, tem suas modas. A Anterior a essa era mostrar quantas citações tal assunto tinha no google. E lá vinham números exorbitantes. Ninguém dava o desconto de que o google cita o mesmo site até três vezes – quem usa já viu – pois é um buscador automático. Da mesma maneira o orkut tem várias comunidades praticamente iguais, que muitas vezes compartilham integrantes. As modas da mídia não são de hoje. Lembra quando toda matéria com números ou estatísticas levava o aval do matemático Oswald de Souza? Toda novidade era da NASA e no supermercado só se entrevistavam donas de casa? É... cada tempo uma moda.

Estou torcendo para que a moda dure. Pode ser que o boca nu trombone vire objeto de citações do orkut e, de tanto ver na tv, o público de verdade acesse feito louco. Tchau, vou ali fabricar umas comunidades!

quarta-feira, abril 19, 2006

Kama Sutra Musical


O Brasil é país de várias culturas, vários gostos e muitos ritmos musicais. Nossa herança miscigenada nos deu de presente um vasto repertório (que o jeitinho brasileiro já deu conta de mixar tudo e inventar mais nuances). Somos identificados no estrangeiro pelo samba, mas dependendo para que recanto do país o turista vá, conhecerá muito mais que isso. É bom que seja assim. A criatividade deve sempre ser estimulada e hoje nem é preciso ter gravadora para lançar um cd. Divulgação, todos sabem, fica a cargo da nossa querida internet.

Acompanhando os contornos que o meio musical mostrou de uns tempos pra cá vemos que vez por outra há um movimento que se impõe sobre todos os ritmos. Dependendo de como andam as coisas as letras ganham contornos mais políticos, se a onda é cantar a paz temos enxurradas de músicas “zen” ou permeada de influências orientais. Há o boom dos cantos evangélicos e o temido funk, que mostra pra sociedade que no morro mora gente igual a você. Cantar o amor é figurinha carimbada e não conta. Embora traga seus desdobramentos cantar o amor é para ontem hoje e sempre.

Talvez pouca gente veja isso como mais um “movimento” (e tomara que nem seja mesmo) mas já há uma boa quantidade de músicas que tratam de nada mais do que uma relação sexual. Isso aí! Não se trata de cantar o fazer amor, ou de insinuar que dormirá com sua amada, ou que sente falta do calor de seu abraço. Me arrisco dizer que a zona começou quando o extinto Gera Samba entoava sua “boquinha na garrafa” e ordenava que a dançarina descesse mais um pouquinho – devagarinho – claro. Era só o começo. Pouco a pouco cenas e mais cenas foram descritas e passaram por vários ritmos. A eles não bastava dizer que se fazia sexo. Contam em minúcias o que vão fazer, como vão fazer e o quanto gozam. O funk logo tomou corpo ao entrar na moda e revelar ao mundo que seus MCs não lavaram a boca com sabão. A boquinha na garrafa virou coisa inocente. A moça agora já estava atoladinha. Quem observa sentia saudade do tempo em que Fagner cantarolava que queria ser um peixe, pra em seu límpido aquário mergulhar. O público ginecológico de hoje deve achar que ele contemplava aquários...

O forró aqui no Nordeste não ia perder uma bocada dessas (no bom sentido viu?). O ritmo das sanfonas vinha ruminando velhas fórmulas desde que entrou nas guitarras elétricas. Fazia suas letras de amor, traduzia de forma ridícula grandes sucessos internacionais e teve um brilho extra com a chegada do Calipso. Como não poderia deixar de ser, descobriu que a onda do momento é descrever peripécias sexuais. Quase um kama sutra nas ondas do rádio, em que um cd deixou de ser coletânea – podem botar o nome de orgia que ele responde.

Sintonize qualquer rádio popular por um tempo e você ouvirá “Lapada na Rachada”. Hit que nasceu da cabeça de alguém que pode até ter conhecido o eufemismo, a poesia ou a metáfora, mas preferiu a escatologia. Retrato de um Brasil onde as meninas podem ouvir esta música junto com a família, mas não se atrevem a perguntar o que a mãe pensa sobre camisinha. Em Lapada, a moça implora por sexo e geme enquanto ele pergunta se está gostoso. Ao vivo deve ser um show hilário. Eles no palco “cantando” e o público em êxtase acompanhando... pra quê motel?

Já disse aqui que sei que para sair algo que preste, muita coisa rasa tem que ser produzida. Sei também que forrozeiro precisa viver. O medo é que para fabricar um sucesso eles estão indo cada vez mais fundo. O preconceito contra o forró pode crescer de novo e o que estava ganhando o Brasil tende a ficar confinado por aqui. Ainda dá tempo de reagir pra depois não ficarem alisando o bichinho deles sozinhos.

domingo, abril 16, 2006

O Poder de uma Tattoo



Para este fim de semana escolhi um tema jovem, pelo simples fato de desconhecê-lo e de estar permeado de preconceitos. E todo preconceito deve ser discutido até que se acabe.

Há pouco tempo minha amiga mais próxima decidiu fazer uma tatuagem, assim pequenininha de lua e estrelinha, aí eu pensei: “massa! Quero ir junto para ver como é e tal...” Depois que ela desligou dei de pensar na maluquice que era aquilo. Eu mesma não teria coragem de fazer, nem todo mundo vê com bons olhos, é uma auto-flagelação. A pessoa faz um desenho qualquer que não dá para tirar, corta a pele, mostra pra todo mundo, faz aquele sucesso e... será que não vai perder a graça depois? Enfim, botei mil defeitos para justificar por que jamais faria.

Comecei a achar muito complexo e contraditório. Hoje em dia as patricinhas fazem tatuagem e todo mundo acha uma graça, mas os meninos que ostentam aquelas imensas ainda são alvo de olhares atravessados. O princípio não é o mesmo? Porque tem gente que não emprega neguinho tatuado? Os desenhos não afetam o cérebro de ninguém e nem pulam dali no nosso pescoço.

Quanto a flagelação, comecei a lembrar das coisas que a mulher faz pra ficar bonita: a gente fura as orelhas, arranca os pêlos da perna, sobrancelha, virilha, estica os cabelos com produto fedorento, pinta unha, pinta cabelo, faz regime doido, usa roupas nada confortáveis, sapato alto e ainda acha tudo muito normal, corriqueiro.

Na verdade o problema não é a tatuagem em si, mas todo o estigma que ela carrega. Provavelmente pelo público que originalmente começou a usar: a bandidagem, consumidores de drogas “tribos” alternativas de gótigos, undergrounds, heavy metal e esses afins. Também há outro grande motivo para o preconceito, que é o comportamento que aqui no Brasil é, digamos, generalizado: o estranho hábito de “fiscalizar”a vida dos outros. Em cidades como Londres ou Nova Iorque a gente anda pelas ruas e vê menina de cabelo cor de néon, roupas malucas, punks, tauagem e piercing à vontade e a galera nem aí, cada um transita livremente com seu jeito de ser, mas aqui isso tudo ainda soa estranho, pois todos querem saber o que faz com que aquela pessoa se vista assim, quais são seus atos, seus pecados, é barra! Aqui normal é político roubar e entrar com liminar para não responder nada. O brasileiro deve achar bonito, pois elege cada figura...

Continuo firme na posição de que não faria uma tatuagem, mas se você por acaso der de cara com um tatuado (quem sabe até seu amigo), admire (ou não) o desenho e só, esqueça o resto, pode ser que nem exista nada por trás daquilo, é apenas um desenho.

quarta-feira, abril 12, 2006

Quem comeu meu ovo?


O começo da Semana Santa inaugura a temporada de apelos consumistas que batem ponto durante o ano. O dia das mães já vem estourando por aí e antes do São João ainda tem o dia dos namorados para fazer a festa de muita loja. Isso tudo antes da copa. Seremos presenteados com as surpreendentes matérias que trazem enquetes: "Vai gastar quanto com ovo de páscoa este ano?" ou "o presente da mamãe vai caber no orçamento?" Todas acompanhadas de respostas contrangidas por parte dos menos endinheirados e satisfeitas quando o entrevistado é surpreendido comprando um presentão.

Seria instigante ouvir respostas para: "você sabe quanto de imposto é imbutido neste ovo de 20 reais?" ou "Se sua conta de luz não fosse tarifada em quase 45% você teria um ar condicionado?". O brasiliero não sabe o quanto paga de imposto nos produtos que consome e deixa de ter um forte argumento para cobrar seus direitos. É mais fácil fazer farra com dinheiro público quando o povo não sabe extamente o quanto anda pagando a todo momento. Já sei, já sei... estou de estraga prazeres hoje e todo brasileiro tem que desopilar. Concordo, mas prefiro desopilar com um panorama menos nebuloso.

Setores da sociedade já se mobilizam para ver aprovada uma lei que obrigue informar o consumidor do quanto ele paga pelo produto e quanto é imposto. Seja no rótulo ou na nota fiscal, esta informação deve estar visível e de fácil leitura. Isso nada mais é do que cidadania, bem distante de tirar documento e aprender a escovar os dentes. Teria sido interessante os brasileiros orgulhosos de Marcos Pontes comentarem que contriburam com x reais para aquela cena.

É surreal, mas não menos surreal do que viver num país que tem uma alíquota que faz o trabalhador dar quase quatro meses de labuta para o leão. Surreal é chamar salário de renda, como se existisse algum lucro em salário. Delirante é ser sobretaxado. Como? Você compra uma casa com seu salário que já deixou a parte do governo na fonte e depois, se vender a casa e não usar o dinheiro para a comprar outro imóvel em até 180 dias... Crau! ele te morde de novo. Enlouquecedor é pagar CPMF para movimentar o próprio dinheiro, mesmo que seja para pagar um IPVA, IPTU, IR, ICMS, ISS, e outros Is.

Agora que já azedei sua morivação para comprar ovos, aproveite para agir a seu favor. Muitas vozes fazem mais barulho que uma ou duas. Exija que seu voto tenha peso (cadê aquele deputado em quem você votou mesmo?). Quer mais motivação? visite www.deolhonoimposto.org.br e www.queromaisbrasil.org.br . A não ser, claro, que ache que nossos hospitais são top de linha, que escola particular é desnecessária, que estamos seguros, nossas estradas são um tapete...

segunda-feira, abril 10, 2006

A Licença da Discórdia


Está pra ser votado o projeto de lei que aumenta para 6 meses a licença maternidade no Brasil. A polêmica é grande porque envolve o dinheiro das empresas, da previdência e, dizem, a carreira das mamães.
Até hoje a tarde eu só havia visto opiniões favoráveis (por parte de mulheres, pediatras, psicólogos) que atestam os benefícios que mais dois meses de amamentação e convívio intenso trazem à criança. Realmente a amamentação quando levada até os seis meses, reduz a incidência de doenças nos bebês, o que provoca menos faltas no trabalho depois. Faz sentido, até porque, se a OMS - organização Mundial de Saúde - recomenda meio ano de peito não é razoável só ter quatro meses.
Opiniões em cima do muro eu já havia escutado também. Dizem que é maravilhoso, mas que ninguém sabe como o mercado vai receber aquela mulher depois, que seis meses desatualiza a pessoa e que cada caso é um caso.
Eu havia pensando vagamente na questão. Embora meu filho já tenha sete anos, eu sempre trabalhei e como mulher, pode ser que um dia eu tenha a insanidade de começar tudo de novo e ache muito bom ter mais 60 dias com o pequerrucho. Nisso de pensar vagamente já vislumbrei algo nebuloso: As restrições a contratação feminina vão aumentar, principalmente de forma velada ( tirando do páreo as casadas sem filhos, que tem mais probabilidade de almejar a maternidade). Noutra hipótese, se o projeto passar colocando os dois meses a mais como facultativos já viu né? Vai virar assunto non grato na empresa. Só funcionária pública vai provar deste gostinho.
O artigo de hoje nasceu mesmo foi depois da declaração de um consultor em rh num telejornal. Dizendo coisas como “A mulher luta pra ganhar tanto quanto o homem, mas está aí mais um dado que puxa pra baixo a produtividade delas” Sendo contra o projeto pelo motivo mais contábil da coisa [nota: eu ainda não decidi se sou a favor]. Depois emendou “num mundo competitivo como o nosso, se a mulher quer mesmo ganhar tanto quanto o homem, que produza como homem”. Ainda bem que moro em Natal e a probabilidade dele passar na minha porta é minúscula, pois ainda tem pau de macarrão na minha cozinha. Ai dele!
Quer dizer então que homens produzem muito mais. Porque será? Passe na frente de uma escola lá pelas seis da tarde e você verá mães esbaforidas que saíram correndo do trabalho para conseguir buscar seus filhos. Verifique quem está se preocupando com os cuidados com os idosos (inclusive com os pais do marido) quando estes adoecem ou precisam de amparo emocional. Quem enlouquece quando a babá falta? As mulheres sempre deram o suporte para que o homem desempenhasse seu trabalho da melhor forma. Elas saíram pra trabalhar e agora levam a pecha de improdutivas. O homem subjugou a mulher no passado porque sabia que ela é um vulcão de criatividade e, ainda por cima, multifuncional.
Afinal, o que querem os homens? Eu fui ensinada a não emitir opinião sobre o que nunca vivenciei. A falta deste ensinamento é que deve ter deixado o tal consultor pensar que ter filho é tarefa pouca. Deve ser filho de chocadeira. Tomara que seja também um solteiro convicto, pra não arrumar confusão com mais uma.


sexta-feira, abril 07, 2006

Cérebros Travados


Dizem que o computador é a máquina que mais chega perto de um ser humano. De fato são cada vez mais rápidos e “inteligentes”, talvez o segundo item do qual não dá pra passar sem, depois do desodorante, claro. Já a mente humana nos revela coisas surpreendentes. A lógica diz que enquanto estiver vivo e saudável é possível aprender coisas novas, principalmente as mais corriqueiras, o senso comum que se passa nas conversas e na convivência com outras pessoas. Pode até ser a lógica, mas em se tratando do ser humano ninguém pode se fiar em nada.

Como jornalista e leitora voraz de tudo o que me passa pela frente, gosto de ver a língua portuguesa bem empregada. Um bom texto, uma conversa interessante e as várias nuances que podemos usar (metáforas, eufemismos, ironia...). Por isso, há anos venho observando uma situação que me deixa intrigada: pessoas que falam errado. Calma, não joguem pedras agora! Não sou Pasquale Cipro Neto e recorro muito ao dicionário. Entendo que nem todo mundo goste de escrever, que goste (ou possa) ler, e sei que as diferentes formas de falar compõe a cultura brasileira. Também não me refiro a quem conjuga verbo errado, não sabe fazer plural ou não sabe o que é admoestação. Isso tudo é normal e compreensível, até porque erudição demais também é um saco.

Meu interesse lingüístico são nas pessoas que falam galfo, táuba, “tito de eleitor”, broco, Banco Badresco e outras aberrações. Não é por ser de interior, pois a maioria vive na cidade há anos; não é o ambiente, uma vez que convivem com gente que fala certo a maior parte do tempo. A maioria não tem síndrome de cebolinha, quem fala Badresco pode sim falar Bradesco, o encontro consonantal é o mesmo. Fui investigar, claro. Comecei com o asg da empresa: “seu , Antônio, o senhor sabe que não é badresco né?” “sei minha filha mas não sai não! E tento, tento, mas quando abro a boca sai...sai... BADRESCO, ta vendo?” . Lá em casa a menina fala “você vai querer a cenoura e o broco?” “ – Claro que quero brócolis” respondo, já querendo consertar a língua da pobre. Investi nela também. Argumentei que ela sabia ler e pedi pra que falasse várias vezes bem devagar: Bró-co-lis , repetiu ela umas seis vezes e mandei falar. Saiu algo como bóscolis. Fui pra uma mais fácil “ – Fala título de eleitor então”. Foi uma novela, parece que a língua enrola no som do U pra ir pro LO.

Com Seu Antônio resolvi apelar, disse que lhe dava 10 reais se ele falasse Atlético Paranaense e não Atrético Panaraense, com direito a dois dias pra treino com minha ajuda. Nesses dois dias os colegas resolveram investir na cultura do colega e o lance passou pra 50 reais. Todos na esperança de mexer com os brios e a possibilidade de um fim de semana mais gordo pro cara.

Deu em nada! Até devagar o danado insistia em pa-na-ra-em-se. Dei o diagnóstico: Seu Antônio, teu cérebro travou.

PS: apesar do tom de brincadeira a coisa é séria. As histórias são verídicas e minha preocupação também. Algum lingüista ou fonoaudiólogo aí pra me dar uma luz?

quarta-feira, abril 05, 2006

A praia vai ficar exatamente do mesmo jeito que está


Natal acompanha em todos os meios de comunicação a novela das prostitutas que fizeram da praia de Ponta Negra o seu escritório. O ambiente na praia está impraticável para a ida de famílias com crianças e mulheres sozinhas. Os estrangeiros viram na praia a realização de seus desejos. Um lugar bonito, quente, perto dos hotéis e com muita mulher se oferecendo.

Tinha que dar em problema mesmo. Nada mais feio que as imagens que a rede Globo mostrou. Mulheres e gringos dançando vulgarmente, combinado programas, consumindo drogas e criando um ciclo que só faz mal pra cidade. Pior para as crianças de baixa renda que circulam pelo local: as meninas aprendem que vender o corpo é trabalho e os meninos logo entendem que turismo é cobrar 10 reais para alguém sentar em uma cadeira e vender passeios “com emoção” para faturar algum do bugueiro (que teimam em dizer que a duna é só deles e já chegaram ao ponto de surrar um turista que entrou no trecho com buggy alugado).

Só não concordo com algumas visões distorcidas que muitos natalenses tem do passado recente da praia. Dizem que Ponta Negra não era assim e que a culpa é da horda de rapazes que vem sozinhos pra cá, já de olho no sexo fácil e barato. Moro em Ponta Negra há mais de 20 anos e na era pré-calçadão, das barraquinhas de lona e madeira já tinha muita menina de bobeira por ali. A coisa acontecia de modo menos ostensivo, mas sempre aconteceu. Prova disso é que durante a noite as moças só andavam na “calçadinha” que passava atrás das barracas se acompanhadas. Ainda que se diga que o problema era só violência e assaltos, todos sabiam que havia boates e bares onde os turistas não “respeitavam” as mulheres.

E o que aconteceu? Varreram-se as barracas do local e trocaram pelos minúsculos quiosques, calçadão mais largo e muita campanha publicitária. Passada a novidade, tudo voltou a ser como antes. Aconteceu que o número de turistas aumentou, a cidade continuou crescendo e a casa do Morro do Careca virou a esquina do sexo, a casa de mãe Joana onde o turista manda porque detêm a grana. Triste, mas chocantemente normal, como já aconteceu em várias cidades do mundo. Olhar agora com ar de desencanto e surpresa é hipocrisia. Qualquer experiente consultor de turismo teria cantado essa bola, talvez ainda a tempo de alguma medida preventiva.

Dentre as medidas que já foram sugeridas para melhorar o clima à beira mar estão câmeras nas ruas, conscientização dos taxistas, opção de lazer e educação para os jovens, buscar o turismo de famílias e até a criação de uma zona livre de prostituição para natal (sei não, mas acho que vai ser num hotel da via costeira). O título deste texto vem das conseqüências óbvias: as câmeras e a consciência dos taxistas só valem para coibir a exploração de menores; oferecer lazer e educação é ótimo, mas falta o meio de vida, din din; buscar famílias vale a pena, mas ninguém pode proibir os homens de vir pra cá; e zona livre? Ah! tenha santa paciência... o resto vai virar proibida por acaso?

Natal está tentando resolver problema de cidade grande pensando como gente pequena. A ação por enquanto tem que ser da sociedade toda. As mulheres que não pretendem prestar nenhum serviço denunciam o assédio, os pais educam os filhos, o Estado protege as crianças e o natalense elege outra praia como point. Porque a prostituição, pelo menos das maiores de idade, ainda vai ter o endereço mais nobre da cidade por um bom tempo.

segunda-feira, abril 03, 2006

Sétima arte - A mais efêmera é também a mais cara


Todo mundo gosta de arte. Até quem afirma o contrário se contradiz na frente da primeira manifestação que agrade aos olhos ou ouvidos. Todas são belas: arquitetura, literatura, pintura, música, dança, escultura e o cinema. Esta última, junto com a música, é foco de investimentos maciços da indústria cultural, onde podemos acompanhar desde filmes memoráveis até músicas que entram pra história. Infelizmente temos igualmente filmes toscos e puramente embasados na beleza das protagonistas e músicas cuja letra tem a profundidade de um pires. Fez parte. Para sair algo bom, muita coisa meia-boca tem que ser produzida também. Além do mais sempre há o grito de guerra do empresariado “é isso o que o público quer”.

No caso do cinema, chamo-a de efêmera, porque, para assistir um filme o telespectador pára diante da tela, assiste e vai para casa, só vendo aquele mesmo filme de novo quando comprar um DVD ou mesmo baixá-lo pela Internet. Neste intervalo provavelmente ele já viu outros... Além da telona eles passam aos montes na tv, em vários horários. Se a história não tiver sido especialmente boa, provavelmente ele nem lembrará direito. Ao contrário da música, que levamos no carro, nos I-pods, colocamos pra escutar enquanto trabalhamos e ect, não se pode ver um filme sempre que se quer. Os mais curtos duram 85 mim e mesmo os mais aficcionados não agüentam, nem tem tempo para ver o mesmo filme dia após dia. Cinema é efêmero não pela qualidade, mas pela quantidade e pelo nosso ritmo de vida.

A despeito disso, frequentar o cinema requer um “investimento” que torna proibitiva a ida com mais freqüência da maioria dos espectadores. Quem gostaria de ir toda semana tem que se contentar com uma vez ao mês. Tenho colegas que por ter família já não vão ao cinema há anos, uma vez que a ida de um casal com duas crianças (num início de noite por exemplo) bate em 42 reais!!! Isso sem pipoca - que ultimamente também está sendo cobrada a preço de ouro. Talvez em São Paulo este preço não seja significativo, mas aqui na terra do sol o salário comercial paga 339,00. O que faz com que esta pequena "farra" de sexta à noite leve mais de 10% do salário.

Todos sabem que para produzir uma fita gasta-se milhoões, que mais outro tanto vai para a publicidade e divulgação da história, que os donos das salas tem custos altos para manter tudo lindo e cheio de tecnologia. E ninguém quer abrir mão das novidades, dos efeitos, dos atores talentosos, do conforto das salas e da segurança dos shoppings. O que ocorre é o velho fenômeno de um argumento não suplantar o outro. Reconhecer que o filme vale o que se paga é uma coisa. Comprar ingresso e entrar na sala escura é outra. O próprio brasileiro passa por isso sempre: explica por A mais B porque precisa e merece aumento de sálário, o patrão eté concorda mas...sabe como é, não dá!

O fenômeno tende a se agravar e foi abordado até por revistas de circulação nacional. No caso a indústria cinematográfica teme o curto período de tempo que existe hoje entre o lançamento do filme e a venda oficial em DVD. O argumento é a desmotivação das pessoas em assistir na telona algo que logo estará nas gôndolas. Fica o convite a uma reflexão: Quem gosta de cimena deixa de ir porque logo mais sai o DVD ou fica de fora por faltar grana para um ingresso tão caro? Em se tratando de Natal certamente a resposta é: baixa o preço que a gente bate ponto.

sábado, abril 01, 2006

A Quitanda



Sinceramente não sei se todo mundo é como eu. Estando empregada ou não, adoro dar uma olhada nos classificados de emprego. É como dar uma zapeada nos canais para ver "o que mais está passando", simplesmente irresistível saber o que há de oportunidade no mercado da nossa cidade. Até fora dela: fui a Recife no início de fevereiro e não deu outra, passei a mão no jornal do hotel e fui olhar as vagas (sim queridos, lá tem mais emprego e sim, paga-se melhor que aqui).

Como já estou "especialista" nos classificados daqui, já sei quais são as empresas que sempre anunciam - o que indica que ninguém suporta trabalhar lá - quais as picaretagens [ganhe até 2.000, ótimo ambiente de trabalho e etc] pra você, que já está liso, ir atrás de uma comissão impossível e na real só ficar com pouco mais de um salário comercial. Outra que aparece muito são de agências. Todas cobram 5 reais pelo cadastro, num exemplo de grupo mais cartelizado que os postos de gasolina. Mais um ponto pitoresco, pra não dizer nefasto, são as exigências: disponibilidade de horário - leia-se, nada de estudar, ser mãe ou simplesmente querer organizar seu horário; remuneração compatível com a função - só se for com a função de ser pobre!

Enfim, os anúncios fazem a gente oscilar do desespero absoluto ao mais absoluto desespero. Por já estar acostumada foi que me espantei com um anúncio que saiu. O cara queria uma pessoa para uma pousada: "procura-se empregada doméstica para pousada em Ponta negra (pra não pagar como camareira ou asg), que durma no emprego (vai trabalhar de noite, com certeza), sem filhos e saiba servir mesas (ganhou um garçon de graça). Até aí eu já imaginava mas na última linha do anúncio vinha a pérola: paga-se salário. Jura? dá até pra imaginar a cara da desempregada lendo aquilo "ah, que pena, queria um que não pagasse..."

Fiquei muitos dias com aquilo na cabeça. Às vezes achava graça, outras pensava em todas as revoluções trabalhistas que a humanidade fez, cheguei a ficar curiosa pra saber se alguém foi. Imagino que depois de acabar com a escravidão, inventar o salário, o piso, a previdência, as leis, estamos refazendo um ciclo, indo de novo em direção à semi-escravidão do trabalhador. O aumento absurdo de faculdades, colocando milhares de profissionais que estudaram tanto para trabalhar por um salário vil faz piorar o problema numa esfera mais próxima da minha. O que se faz com a profissão de jornalista é quase o que o cara da pousada queria... mas o pior foi constatar que Natal não tem mercado de trabalho. Natal tem quitanda!

sexta-feira, março 31, 2006

Comecei na sexta!!!


Epa! segunda feira é que é dia de começar as coisas! Queria muito fazer este blog, há tempos vi que é o único canal de mídia que tenho acesso hoje. Na contramão da idéia-geral de levantar com o pé direito na segunda e colocar seus projetos em prática, sentei aqui numa sexta à noite (tem até uma dorzinha no pescoço e tal...) e Voi lá!
Vamos as apresentações. Eu primeiro certo? Sou Layana Brasil, nascida no Rio e criada em Natal - RN, Jornalista, mãe e, principalmente, uma pessoa incorformada com certas coisas que a vida nos apresenta. Por ser muito educada e não ser intolerante, não é sempre que saio dando minhas opiniões por aí (elas costumam ser bem ácidas).
Pode ser política, educação, fatos da vida, cotidiano, um outro olhar sobre tudo que já se disse, minha vida, sua vida (é, se for legal, vai sua vida também). Enfim, uma análise nada acadêmica, bem humorada e longe de ser dona de alguma verdade, é o que vocês terão aqui, neste humilde blog.
Sintam-se convidados a ser amigos virtuais, críticos vituais, apoiadores virtuais e leitores reais. Um grande abraço, amanhã tem mais.