Bem Vindo

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sábado, junho 12, 2010

O dia em que Lara virou verbo


Eduardo, o filho grande e adolê aqui de casa, sempre foi exímio inventor de palavras - como toda criança - mas o legal é que ele inventava coisas que faziam sentido, tinham lógica. Por exemplo, eu dizia: "filho você é meu tesouro" e ele rebatia com "mamãe você é a minha tesoura". Quando ele se arranhava brincando, chegava dizendo que tinha um arranho na perna, eu explicava que o certo era arranhão e ele: "não mãe arranhão é grande, esse aqui é só um arranho mesmo" ah tá... Também gostava de empolar a fala pra se fazer de criança prodígio e dizia coisas como "o meu engasgamento aconteceu na hora da engolição".


Tudo isso passou depois dos 8, 9 anos de idade (que bom, e que pena também). Eis que agora, aos 11, Edu voltou com tudo. Num processo muito louco e fofo ele faz do nome da irmã o substituto perfeito para verbos, advérbios e adjetivos. A troca é tão espontânea e perfeita que não provoca dúvida nunca, quem ouve entende na hora qual palavra foi substituída pelo correspondente nessa nova gramática laral aqui de casa.


Na língua de Edu, Lara é verbo:

"Tadinha, está larando sozinha ali no berço" (brincando)

"Oi irmã, larou muito hoje? Já está de barriguinha cheia?" (mamou)

"Quando será que ela vai deixar de larar deitada para larar em pé?" (arrastar-se e andar)


Lara é advérbio:

"Eu já sabia, pelo cheiro, que ela estava toda larada" (isso mesmo que você pensou aí)

"De manhã o tempo passa tão laramente né mãe?"(calmamente)

"O bebê da sua amiga não tem um jeito assim, tão laral" (como ele consegue isso meu Deus?)


Lara vira até adjetivo:

"Eeeeeca golfadas! Sua... sua larenta" (nojenta... ai ai ai)

"quando quer dormir né.. fica toda larosa"(dengosa)


Já estou resignada com o fato dele ter transformado o nome da irmã num caso doméstico de gramaticalização (sinto agora mesmo o olhar inquisidor e reprovante da Prof. Angélica*). Quando penso que a matéria que ele mais gosta nem é português eu concordo com quem já concluiu que uma grande quantidade de aulas pode não tirar uma pessoa do analfabetismo funcional, mas muitos e muitos livros lidos com certeza solidificam os conceitos e regras de uma língua.


E eu, nota-se, fico muito, mas muito gabola da sapiência do meu rebento!


* Doutora Maria Angélica Furtado da Cunha, professora - agora titular - do Departamento de Letras da UFRN. Uma grande figura de 1,50m de altura e quiilômetros de pura sabedoria linguística. Que ela me perdoe a petulância de achar de posso falar de gramaticalização, mas aqui é só um humilde blog... "num mata não".