Bem Vindo

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segunda-feira, junho 23, 2008

Coisas de brasileiro



Estou prestes a ser tia. Não tia na acepção corretíssima da palavra porque nenhum irmão meu está pra ter filho, mas a cunhada está! Então me abracei com o título de tia que posso ser e aproveito pra vivenciar uma gravidez de perto, só que desta vez, como mera expectadora. E foi como ouvinte que ela me contou algo que eu já sabia: as pessoas são muito mal educadas com as grávidas e os idosos nos ambientes públicos e anônimos. Não dão assento no ônibus e torcem o nariz pra dar lugar nas filas. Caixas prefenciais nos supermercados são invadidos por pessoas "com pressa" e a maioria dos fumantes parece querer deixar o futuro pimpoplho "no grau" de tanta fumaça.




Enquanto me compadecia com as agruras de Adriana, ia juntando tomé com bebé aqui na minha cabeça pra tentar entender este fenômeno. Considero fenômeno simplesmente porque ainda que a educação em casa esteja falida e a da escola esteja a um passo da bacarrota, a maioria das pessoas já conviveu com uma grávida ou tem idoso na família e sabe quais são as limitações. Isso sem contar que são situações pela qual todo mundo pode passar um dia - já que para ficar idoso basta não morrer cedo e pra engravidar... bom, você já deve ter uma boa noção... - então não acho lógico que se trate com tanta indiferença alguém que está numa situação tão comum.




Comum? Será que estaria aí o x da questão? Será que antigamente os velhos e grávidas circulavam menos em público e por isso quando eles apareciam eram cercados de cuidados? Foi um chute, mas pode até ser verdade. Os idosos eram mais poupados, a velhice era cercada de tabus... Mulheres barrigudas não batiam perna por aí ao léu, não trabalhavam e a gestação era cercada de medos e de não-pode-isso, não-pode-aquilo. Então dar preferência para este público não devia ser tão complicado. Hoje os vovôs não param em casa e as grávidas menos ainda (some-se a isso que hoje a "idade pra ser mãe" está entre os 15 e os 45, a julgar pelo que vejo na rua).




Minha própria explicação não me contenta. Teimo em achar que há uma explicação muito mais mesquinha para isso tudo. Sempre penso que no fundo no fundo as causas para os desvios de nossa sociedade são econômicas. Vejo uma noção pouco clara de civilidade na cabeça das pessoas, que hoje se vêem muito mais como clientes.




O mesmo sistema que nos oferece de tudo o tempo todo nos torna clientes 24 horas por dia. Hoje somos, antes de tudo, consumidores e quem tem este tipo de mentalidade odeia pensar que está perdendo alguma coisa. O passageiro que está no ônibus e finge dormir ou olhar pela janela para não oferecer lugar expressa que pagou pelo direito ao assento tanto quanto a grávida e mais que o idoso - que aqui em Natal não paga. A lógica dominante é a do "eu paguei e tenho direito de estar aqui, a empresa que tem que pôr mais ônibus para que todos sentem". Já ouvi pessoas conversando que os idosos tem mania de ir ao banco nas piores horas só porque não pegam fila e que gostam de ficar dando rolé pela cidade nas horas de pico, dificultando a vida de quem trabalha.




A mesma lógica torta funciona no supermercado onde nem a pessoa de carrinho cheio quer esperar nem o dono quer ver caixa ocioso quando tem gente querendo comprar. Por isso é tão comum ver o caixa preferencial ocupado por gente nova, sem deficiências físicas nem barrigão.




O brasileiro joga lixo na rua não só por ser nojento ou ter preguiça de procurar uma lata, mas porque inconscientemente sabe que está pagando pelo servico da limpeza pública e acha que tem "direito" de "usar" o serviço. Antes eu achava que era o contrário, que sujavam e depredavam por achar que era de graça, mas depois de tanto ouvir as conversas de gente comum estou certa de que a grana é e sempre será o que constrói e corrói coisas belas.