Bem Vindo

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terça-feira, agosto 15, 2006

AGOSTO


Este é o melhor mês do ano! A despeito dos que rimam agosto com desgosto, já faz uns seis anos que eu fico rasgando folhinha esperando julho terminar. Eu explico: Agosto é o mês das férias do meu pai. Ele mora longe por causa do trabalho e só vem aqui duas vezes ao ano (quando tudo conspira a favor, tem uma colher de chá na páscoa). Depois vem as coincidências – dias dos pais e aniversário dele na segunda quinzena – o que só faz a coisa toda ter ainda mais graça.

Geralmente são os meninos que nutrem uma certa idolatria pelo pai,mas eu tenho lá meus motivos. Um deles é que quanto mais os anos passam mais facetas legais a gente descobre. O cara não está ficando um velhinho ultrapassado, daqueles que perdeu o bonde da tecnologia, ou pior, dos que vão criando um puritanismo, como se ficassem santos com o passar do tempo, reclamando de qualquer pacadilho que apareça na tv. Papai não, com ele não tem preconceitos (quer dizer, tem alguns, mas ele disfarça bem). Claro que como todo cara na casa dos “enta” ele perde a paciência fácil e se estressa com coisas banais, mas como hoje os de vinte também estão assim, ele passa batido.

O Oitavo mês do ano é tempo de ouvir a risada do meu pai encher a casa, falar de filmes que ele viu e dos que não viu, ir a restaurantes e vê-lo reclamar do serviço e depois dizer que não é exigente, de ter um monte de roupas bonitas e usar as de sempre porque “estava em cima”, passar horas dasatando nozinhos de um saco ou tirando cada durex de um papel, de ver ele deixar cair ou tropeçar em algo e dizer: P.Q....!!! . Dizem que ele parece o Lineu (da Grande Família), ele diz que é exagero, mas que parece, ah parece.

Também tem umas coisas que ele faz ou fala sempre que determinada coisa ocorre. Se passa pelo meu irmão no banheiro ajeitando o cabelo: mas rapaz...você acabou ficando careca mesmo hein? Ao me ver ler à meia luz: Porque tá lendo no escuro? Isso faz mau... Se vê alguém descalço conta que deixa os chinelos ao lado da cama e nunca anda sem eles, só dormindo ou no banho (realmente nunca vi meu pai de pé sujo) quando vê a amada fazendo algo, falando no telefone e passando mensagem em outro diz: Deus me livre, por isso que eu não quero celular. E tem sua clássica “posição de xícara” (em pé com os punhos cerrados apoiados na lateral da barriga) que ele se posta sempre que observa algo que não o agrada muito.

Gosto de ver como ele simplifica coisas que dão ataque cardíaco nos outros. Pode ser um prazo se esgotando ou uma falta de grana e ele lá, impassível, tentando resolver as coisas. Sem surtar nem achar que o mundo acaba ali. Tomara que por dentro também fique frio, senão não adianta viu?

Adoro, principalmente, parecer com ele. Reclamo do meu cabelo enrolado, da minha mão quadrada e dos pés de galinha que ele tem e já aparecem no meu rosto. Tudo onda, eu mostro pra todo mundo que pareço com ele e sou até inteligente como ele, só não em matemática...Quando dou por mim, lá estou eu em posição de xícara olhando pra alguma coisa e lembrando dele. Provavelmente ano que vem não estarei mais morando com ele, é da vida, mas vou achar bem estranho.

É muito bom amar e admirar uma pessoa de quem se tem monte me coisas boas para falar, mas talvez a melhor delas tenha sido que ele nos criou com consciência ética, respeito à vida e mais vontade de aprender do que de ter. Ele ter ido morar longe foi um duro golpe no coração da família, mas como tudo tem seu revés, foi nossa oportunidade de ver que ele é um tesouro e não ter vergonha de demonstrar nada. Ainda não tenho a experiência de vida dele, nem sei se um dia vou ter, mas o meu pai (já deu pra perceber que eu adoro dizer meu pai né?) conseguiu ser um pai muito melhor do que o que ele mesmo teve. Fez diferente, sem seguir tradição, opinião dos outros ou be-a-bás de auto-ajuda. Ele nunca ficou se comparando nem se inspirando a ninguém em nada, muito menos em ser pai. Eu não sou tão altruísta, fico comparando tudo e digo agora o que constato sempre: Meu pai ganha de capota, disparado de todo mundo, é o último biscoito do pacote, a oitava cor do arco-íris.

Se a vida for mesmo uma só, foi uma sorte de mega-sena nascer filha dele, mas se forem várias as nossas passagens por aqui, quem sabe um dia eu consiga retribuir tudo isso?