Bem Vindo

Você que está sempre por aqui ou você que chegou agora, fique á vontade pra comentar, criticar, adicionar. Nem só da mente louquinha da autora é que o blog se alimenta!

quinta-feira, abril 27, 2006

Cai como uma luva


O discurso mais propalado pelos empresários do país na hora de reclamar dos impostos é o de que a carga tributária os impede de aumentar salários e principalmente contratar mais. Todos sabem que a mordida do leão é doída e que infelizmente grande parte serve apenas para custear a “máquina”, pagar funcionalismo e previdência. Outra parte custeia os péssimos serviços que o governo nos oferece e desaparece nos ralos dos vários dutos (aqui em Natal o da vez é o foliaduto) que ajudam a escoar o erário.

Ainda assim, sempre que escuto as lamúrias do empresariado fico com pé atrás. Raiva de pagar imposto eu entendo, mas custo a acreditar que eles realmente aumentariam salário de alguém. A dúvida fica apenas em nível local, imagina-se que no sudeste a medida realmente faria efeito para quem merece. Falar dos hábitos e cultura de nossa cidade é difícil, pois Natal está cada vez mais cosmopolita e o progresso avançou rápido por aqui. Já a cultura do empresariado local é mais homogênea, enraizou-se com força e resiste a consultores, tendências e pedidos de demissão.

Aqui se implantou a mentalidade de que todos devem ganhar salário mínimo. (há, claro, umas poucas e honrosas exceções, a quem se deve tirar o chapéu) De resto quando se oferece um pouco mais é a título de “comissão”. A desculpa é a situação da empresa, a dificuldade de manter o funcionário e por aí vai longe. Não tirei minhas conclusões a esmo. Observo as nuances perversas deste mercado há uns dez anos. Exige-se um funcionário exemplar (não que todos sejam) para tratá-lo como qualquer outro. Nesta terrinha já vi a diferença de salário entre um faxineiro e um auxiliar administrativo não ultrapassar 100 reais.

Como se não bastasse, num mundo onde tudo é on-line, os patrões gostam de efetuar o pagamento em dinheiro, fazendo uma fila na frente da porta, criando um ambiente semi-feudal. Não raro é o próprio dono que o faz, de cara feia, para espantar eventuais pedidos de aumento. Outra prática comum por aqui é comparar o trabalho altamente especializado de alguém que estudou muito com o de outra pessoa que faz algo completamente diferente e soltar: “veja fulano, trabalha tantas horas a mais que você e não vive reclamando”.

Os cursos de gerência, de liderança e administração estão cheios de empresários que se sentem arrojados estudando. Deve ser pra fazer tipo, pois da porta pra fora esquecem que um colaborador – para usar a palavra da moda – produz menos quando se sente desvalorizado, que não se consegue comprometimento na marra, que salário mínimo deve ser piso e não regra e, principalmente que vale muito ter alguém que não vai trabalhar todo dia pensando em ir embora. Esquecem tudo! A desculpa dos impostos é uma muleta excelente nestas horas. De tanto ver e ficar sabendo de coisas assim é que espero com dupla ansiedade por reformas. Quem pensa dessa forma não vai aumentar salário de ninguém e será curioso acompanhar qual será o novo bode expiatório que levará a culpa pela situação dos trabalhadores.

segunda-feira, abril 24, 2006

O Novo Termômetro da Mídia


Poucas instituições gozam de tanto prestígio com os brasileiros como a imprensa. É a responsável por informar grande parcela da população através da tv e contribui para a formação de opiniões com suas análises e pontos de vista. Apesar das batatadas que vez por outra acabam vindo a público, os meios de comunicação cumprem bem seu papel no Brasil. Cabe também à imprensa a missão de fiscalizar o poder. Missão que é de direito de qualquer brasileiro, mas nem todos tem tempo livre para assistir sessões da câmara, investigar falsos serviços prestados e outras artimanhas.

No imaginário popular o que sai na imprensa é relevante, logo - imagina o público - deve levar em consideração pontos importantes para dar base as suas afirmações. Para o povo, deu na mídia, ganhou o mundo! Artista só tem “valor” quando está aparecendo, atletas ganham mais fãs à medida que dão entrevistas e personalidades efêmeras lutam por mais instantes de fama. Até os assuntos nas rodas de conversa são permeados pela pauta do noticiário (alguém viu aí mais alguma conversa sobre mãe que abandona bebê recém-nascido?). É comum ouvir: “você viu menina, deve ser coisa importante mesmo essa ida do brasileiro à lua, deu em todo lugar”
E a própria mídia, como busca saber o que está em alta? Quais argumentos usa para validar o que está dando como senso comum ou para afirmar a popularidade de alguma coisa? Para nossa surpresa, de uns tempos pra cá, o dado mais usado para confirmar que aquilo que está se mostrando realmente tem relevância é, pasmem, a quantidade de comunidades no Orkut dedicadas a pessoa ou assunto! Fale-se sobre Suzane Risthofen, sobre Ronaldinho, sobre novelas ou até da falta de emprego lá vem a deixa: já são inúmeras as comunidades no Orkut dedicadas ao tema. Agora não tem matéria de polícia que não mostre o delegado “desbravando” a rede em busca de pistas. Gente muito séria tem usado o expediente. Já faz algum tempo que as principais revistas do país aderiram ao modismo.

A mídia, como qualquer coisa inventada pelo ser humano, tem suas modas. A Anterior a essa era mostrar quantas citações tal assunto tinha no google. E lá vinham números exorbitantes. Ninguém dava o desconto de que o google cita o mesmo site até três vezes – quem usa já viu – pois é um buscador automático. Da mesma maneira o orkut tem várias comunidades praticamente iguais, que muitas vezes compartilham integrantes. As modas da mídia não são de hoje. Lembra quando toda matéria com números ou estatísticas levava o aval do matemático Oswald de Souza? Toda novidade era da NASA e no supermercado só se entrevistavam donas de casa? É... cada tempo uma moda.

Estou torcendo para que a moda dure. Pode ser que o boca nu trombone vire objeto de citações do orkut e, de tanto ver na tv, o público de verdade acesse feito louco. Tchau, vou ali fabricar umas comunidades!

quarta-feira, abril 19, 2006

Kama Sutra Musical


O Brasil é país de várias culturas, vários gostos e muitos ritmos musicais. Nossa herança miscigenada nos deu de presente um vasto repertório (que o jeitinho brasileiro já deu conta de mixar tudo e inventar mais nuances). Somos identificados no estrangeiro pelo samba, mas dependendo para que recanto do país o turista vá, conhecerá muito mais que isso. É bom que seja assim. A criatividade deve sempre ser estimulada e hoje nem é preciso ter gravadora para lançar um cd. Divulgação, todos sabem, fica a cargo da nossa querida internet.

Acompanhando os contornos que o meio musical mostrou de uns tempos pra cá vemos que vez por outra há um movimento que se impõe sobre todos os ritmos. Dependendo de como andam as coisas as letras ganham contornos mais políticos, se a onda é cantar a paz temos enxurradas de músicas “zen” ou permeada de influências orientais. Há o boom dos cantos evangélicos e o temido funk, que mostra pra sociedade que no morro mora gente igual a você. Cantar o amor é figurinha carimbada e não conta. Embora traga seus desdobramentos cantar o amor é para ontem hoje e sempre.

Talvez pouca gente veja isso como mais um “movimento” (e tomara que nem seja mesmo) mas já há uma boa quantidade de músicas que tratam de nada mais do que uma relação sexual. Isso aí! Não se trata de cantar o fazer amor, ou de insinuar que dormirá com sua amada, ou que sente falta do calor de seu abraço. Me arrisco dizer que a zona começou quando o extinto Gera Samba entoava sua “boquinha na garrafa” e ordenava que a dançarina descesse mais um pouquinho – devagarinho – claro. Era só o começo. Pouco a pouco cenas e mais cenas foram descritas e passaram por vários ritmos. A eles não bastava dizer que se fazia sexo. Contam em minúcias o que vão fazer, como vão fazer e o quanto gozam. O funk logo tomou corpo ao entrar na moda e revelar ao mundo que seus MCs não lavaram a boca com sabão. A boquinha na garrafa virou coisa inocente. A moça agora já estava atoladinha. Quem observa sentia saudade do tempo em que Fagner cantarolava que queria ser um peixe, pra em seu límpido aquário mergulhar. O público ginecológico de hoje deve achar que ele contemplava aquários...

O forró aqui no Nordeste não ia perder uma bocada dessas (no bom sentido viu?). O ritmo das sanfonas vinha ruminando velhas fórmulas desde que entrou nas guitarras elétricas. Fazia suas letras de amor, traduzia de forma ridícula grandes sucessos internacionais e teve um brilho extra com a chegada do Calipso. Como não poderia deixar de ser, descobriu que a onda do momento é descrever peripécias sexuais. Quase um kama sutra nas ondas do rádio, em que um cd deixou de ser coletânea – podem botar o nome de orgia que ele responde.

Sintonize qualquer rádio popular por um tempo e você ouvirá “Lapada na Rachada”. Hit que nasceu da cabeça de alguém que pode até ter conhecido o eufemismo, a poesia ou a metáfora, mas preferiu a escatologia. Retrato de um Brasil onde as meninas podem ouvir esta música junto com a família, mas não se atrevem a perguntar o que a mãe pensa sobre camisinha. Em Lapada, a moça implora por sexo e geme enquanto ele pergunta se está gostoso. Ao vivo deve ser um show hilário. Eles no palco “cantando” e o público em êxtase acompanhando... pra quê motel?

Já disse aqui que sei que para sair algo que preste, muita coisa rasa tem que ser produzida. Sei também que forrozeiro precisa viver. O medo é que para fabricar um sucesso eles estão indo cada vez mais fundo. O preconceito contra o forró pode crescer de novo e o que estava ganhando o Brasil tende a ficar confinado por aqui. Ainda dá tempo de reagir pra depois não ficarem alisando o bichinho deles sozinhos.

domingo, abril 16, 2006

O Poder de uma Tattoo



Para este fim de semana escolhi um tema jovem, pelo simples fato de desconhecê-lo e de estar permeado de preconceitos. E todo preconceito deve ser discutido até que se acabe.

Há pouco tempo minha amiga mais próxima decidiu fazer uma tatuagem, assim pequenininha de lua e estrelinha, aí eu pensei: “massa! Quero ir junto para ver como é e tal...” Depois que ela desligou dei de pensar na maluquice que era aquilo. Eu mesma não teria coragem de fazer, nem todo mundo vê com bons olhos, é uma auto-flagelação. A pessoa faz um desenho qualquer que não dá para tirar, corta a pele, mostra pra todo mundo, faz aquele sucesso e... será que não vai perder a graça depois? Enfim, botei mil defeitos para justificar por que jamais faria.

Comecei a achar muito complexo e contraditório. Hoje em dia as patricinhas fazem tatuagem e todo mundo acha uma graça, mas os meninos que ostentam aquelas imensas ainda são alvo de olhares atravessados. O princípio não é o mesmo? Porque tem gente que não emprega neguinho tatuado? Os desenhos não afetam o cérebro de ninguém e nem pulam dali no nosso pescoço.

Quanto a flagelação, comecei a lembrar das coisas que a mulher faz pra ficar bonita: a gente fura as orelhas, arranca os pêlos da perna, sobrancelha, virilha, estica os cabelos com produto fedorento, pinta unha, pinta cabelo, faz regime doido, usa roupas nada confortáveis, sapato alto e ainda acha tudo muito normal, corriqueiro.

Na verdade o problema não é a tatuagem em si, mas todo o estigma que ela carrega. Provavelmente pelo público que originalmente começou a usar: a bandidagem, consumidores de drogas “tribos” alternativas de gótigos, undergrounds, heavy metal e esses afins. Também há outro grande motivo para o preconceito, que é o comportamento que aqui no Brasil é, digamos, generalizado: o estranho hábito de “fiscalizar”a vida dos outros. Em cidades como Londres ou Nova Iorque a gente anda pelas ruas e vê menina de cabelo cor de néon, roupas malucas, punks, tauagem e piercing à vontade e a galera nem aí, cada um transita livremente com seu jeito de ser, mas aqui isso tudo ainda soa estranho, pois todos querem saber o que faz com que aquela pessoa se vista assim, quais são seus atos, seus pecados, é barra! Aqui normal é político roubar e entrar com liminar para não responder nada. O brasileiro deve achar bonito, pois elege cada figura...

Continuo firme na posição de que não faria uma tatuagem, mas se você por acaso der de cara com um tatuado (quem sabe até seu amigo), admire (ou não) o desenho e só, esqueça o resto, pode ser que nem exista nada por trás daquilo, é apenas um desenho.

quarta-feira, abril 12, 2006

Quem comeu meu ovo?


O começo da Semana Santa inaugura a temporada de apelos consumistas que batem ponto durante o ano. O dia das mães já vem estourando por aí e antes do São João ainda tem o dia dos namorados para fazer a festa de muita loja. Isso tudo antes da copa. Seremos presenteados com as surpreendentes matérias que trazem enquetes: "Vai gastar quanto com ovo de páscoa este ano?" ou "o presente da mamãe vai caber no orçamento?" Todas acompanhadas de respostas contrangidas por parte dos menos endinheirados e satisfeitas quando o entrevistado é surpreendido comprando um presentão.

Seria instigante ouvir respostas para: "você sabe quanto de imposto é imbutido neste ovo de 20 reais?" ou "Se sua conta de luz não fosse tarifada em quase 45% você teria um ar condicionado?". O brasiliero não sabe o quanto paga de imposto nos produtos que consome e deixa de ter um forte argumento para cobrar seus direitos. É mais fácil fazer farra com dinheiro público quando o povo não sabe extamente o quanto anda pagando a todo momento. Já sei, já sei... estou de estraga prazeres hoje e todo brasileiro tem que desopilar. Concordo, mas prefiro desopilar com um panorama menos nebuloso.

Setores da sociedade já se mobilizam para ver aprovada uma lei que obrigue informar o consumidor do quanto ele paga pelo produto e quanto é imposto. Seja no rótulo ou na nota fiscal, esta informação deve estar visível e de fácil leitura. Isso nada mais é do que cidadania, bem distante de tirar documento e aprender a escovar os dentes. Teria sido interessante os brasileiros orgulhosos de Marcos Pontes comentarem que contriburam com x reais para aquela cena.

É surreal, mas não menos surreal do que viver num país que tem uma alíquota que faz o trabalhador dar quase quatro meses de labuta para o leão. Surreal é chamar salário de renda, como se existisse algum lucro em salário. Delirante é ser sobretaxado. Como? Você compra uma casa com seu salário que já deixou a parte do governo na fonte e depois, se vender a casa e não usar o dinheiro para a comprar outro imóvel em até 180 dias... Crau! ele te morde de novo. Enlouquecedor é pagar CPMF para movimentar o próprio dinheiro, mesmo que seja para pagar um IPVA, IPTU, IR, ICMS, ISS, e outros Is.

Agora que já azedei sua morivação para comprar ovos, aproveite para agir a seu favor. Muitas vozes fazem mais barulho que uma ou duas. Exija que seu voto tenha peso (cadê aquele deputado em quem você votou mesmo?). Quer mais motivação? visite www.deolhonoimposto.org.br e www.queromaisbrasil.org.br . A não ser, claro, que ache que nossos hospitais são top de linha, que escola particular é desnecessária, que estamos seguros, nossas estradas são um tapete...

segunda-feira, abril 10, 2006

A Licença da Discórdia


Está pra ser votado o projeto de lei que aumenta para 6 meses a licença maternidade no Brasil. A polêmica é grande porque envolve o dinheiro das empresas, da previdência e, dizem, a carreira das mamães.
Até hoje a tarde eu só havia visto opiniões favoráveis (por parte de mulheres, pediatras, psicólogos) que atestam os benefícios que mais dois meses de amamentação e convívio intenso trazem à criança. Realmente a amamentação quando levada até os seis meses, reduz a incidência de doenças nos bebês, o que provoca menos faltas no trabalho depois. Faz sentido, até porque, se a OMS - organização Mundial de Saúde - recomenda meio ano de peito não é razoável só ter quatro meses.
Opiniões em cima do muro eu já havia escutado também. Dizem que é maravilhoso, mas que ninguém sabe como o mercado vai receber aquela mulher depois, que seis meses desatualiza a pessoa e que cada caso é um caso.
Eu havia pensando vagamente na questão. Embora meu filho já tenha sete anos, eu sempre trabalhei e como mulher, pode ser que um dia eu tenha a insanidade de começar tudo de novo e ache muito bom ter mais 60 dias com o pequerrucho. Nisso de pensar vagamente já vislumbrei algo nebuloso: As restrições a contratação feminina vão aumentar, principalmente de forma velada ( tirando do páreo as casadas sem filhos, que tem mais probabilidade de almejar a maternidade). Noutra hipótese, se o projeto passar colocando os dois meses a mais como facultativos já viu né? Vai virar assunto non grato na empresa. Só funcionária pública vai provar deste gostinho.
O artigo de hoje nasceu mesmo foi depois da declaração de um consultor em rh num telejornal. Dizendo coisas como “A mulher luta pra ganhar tanto quanto o homem, mas está aí mais um dado que puxa pra baixo a produtividade delas” Sendo contra o projeto pelo motivo mais contábil da coisa [nota: eu ainda não decidi se sou a favor]. Depois emendou “num mundo competitivo como o nosso, se a mulher quer mesmo ganhar tanto quanto o homem, que produza como homem”. Ainda bem que moro em Natal e a probabilidade dele passar na minha porta é minúscula, pois ainda tem pau de macarrão na minha cozinha. Ai dele!
Quer dizer então que homens produzem muito mais. Porque será? Passe na frente de uma escola lá pelas seis da tarde e você verá mães esbaforidas que saíram correndo do trabalho para conseguir buscar seus filhos. Verifique quem está se preocupando com os cuidados com os idosos (inclusive com os pais do marido) quando estes adoecem ou precisam de amparo emocional. Quem enlouquece quando a babá falta? As mulheres sempre deram o suporte para que o homem desempenhasse seu trabalho da melhor forma. Elas saíram pra trabalhar e agora levam a pecha de improdutivas. O homem subjugou a mulher no passado porque sabia que ela é um vulcão de criatividade e, ainda por cima, multifuncional.
Afinal, o que querem os homens? Eu fui ensinada a não emitir opinião sobre o que nunca vivenciei. A falta deste ensinamento é que deve ter deixado o tal consultor pensar que ter filho é tarefa pouca. Deve ser filho de chocadeira. Tomara que seja também um solteiro convicto, pra não arrumar confusão com mais uma.


sexta-feira, abril 07, 2006

Cérebros Travados


Dizem que o computador é a máquina que mais chega perto de um ser humano. De fato são cada vez mais rápidos e “inteligentes”, talvez o segundo item do qual não dá pra passar sem, depois do desodorante, claro. Já a mente humana nos revela coisas surpreendentes. A lógica diz que enquanto estiver vivo e saudável é possível aprender coisas novas, principalmente as mais corriqueiras, o senso comum que se passa nas conversas e na convivência com outras pessoas. Pode até ser a lógica, mas em se tratando do ser humano ninguém pode se fiar em nada.

Como jornalista e leitora voraz de tudo o que me passa pela frente, gosto de ver a língua portuguesa bem empregada. Um bom texto, uma conversa interessante e as várias nuances que podemos usar (metáforas, eufemismos, ironia...). Por isso, há anos venho observando uma situação que me deixa intrigada: pessoas que falam errado. Calma, não joguem pedras agora! Não sou Pasquale Cipro Neto e recorro muito ao dicionário. Entendo que nem todo mundo goste de escrever, que goste (ou possa) ler, e sei que as diferentes formas de falar compõe a cultura brasileira. Também não me refiro a quem conjuga verbo errado, não sabe fazer plural ou não sabe o que é admoestação. Isso tudo é normal e compreensível, até porque erudição demais também é um saco.

Meu interesse lingüístico são nas pessoas que falam galfo, táuba, “tito de eleitor”, broco, Banco Badresco e outras aberrações. Não é por ser de interior, pois a maioria vive na cidade há anos; não é o ambiente, uma vez que convivem com gente que fala certo a maior parte do tempo. A maioria não tem síndrome de cebolinha, quem fala Badresco pode sim falar Bradesco, o encontro consonantal é o mesmo. Fui investigar, claro. Comecei com o asg da empresa: “seu , Antônio, o senhor sabe que não é badresco né?” “sei minha filha mas não sai não! E tento, tento, mas quando abro a boca sai...sai... BADRESCO, ta vendo?” . Lá em casa a menina fala “você vai querer a cenoura e o broco?” “ – Claro que quero brócolis” respondo, já querendo consertar a língua da pobre. Investi nela também. Argumentei que ela sabia ler e pedi pra que falasse várias vezes bem devagar: Bró-co-lis , repetiu ela umas seis vezes e mandei falar. Saiu algo como bóscolis. Fui pra uma mais fácil “ – Fala título de eleitor então”. Foi uma novela, parece que a língua enrola no som do U pra ir pro LO.

Com Seu Antônio resolvi apelar, disse que lhe dava 10 reais se ele falasse Atlético Paranaense e não Atrético Panaraense, com direito a dois dias pra treino com minha ajuda. Nesses dois dias os colegas resolveram investir na cultura do colega e o lance passou pra 50 reais. Todos na esperança de mexer com os brios e a possibilidade de um fim de semana mais gordo pro cara.

Deu em nada! Até devagar o danado insistia em pa-na-ra-em-se. Dei o diagnóstico: Seu Antônio, teu cérebro travou.

PS: apesar do tom de brincadeira a coisa é séria. As histórias são verídicas e minha preocupação também. Algum lingüista ou fonoaudiólogo aí pra me dar uma luz?

quarta-feira, abril 05, 2006

A praia vai ficar exatamente do mesmo jeito que está


Natal acompanha em todos os meios de comunicação a novela das prostitutas que fizeram da praia de Ponta Negra o seu escritório. O ambiente na praia está impraticável para a ida de famílias com crianças e mulheres sozinhas. Os estrangeiros viram na praia a realização de seus desejos. Um lugar bonito, quente, perto dos hotéis e com muita mulher se oferecendo.

Tinha que dar em problema mesmo. Nada mais feio que as imagens que a rede Globo mostrou. Mulheres e gringos dançando vulgarmente, combinado programas, consumindo drogas e criando um ciclo que só faz mal pra cidade. Pior para as crianças de baixa renda que circulam pelo local: as meninas aprendem que vender o corpo é trabalho e os meninos logo entendem que turismo é cobrar 10 reais para alguém sentar em uma cadeira e vender passeios “com emoção” para faturar algum do bugueiro (que teimam em dizer que a duna é só deles e já chegaram ao ponto de surrar um turista que entrou no trecho com buggy alugado).

Só não concordo com algumas visões distorcidas que muitos natalenses tem do passado recente da praia. Dizem que Ponta Negra não era assim e que a culpa é da horda de rapazes que vem sozinhos pra cá, já de olho no sexo fácil e barato. Moro em Ponta Negra há mais de 20 anos e na era pré-calçadão, das barraquinhas de lona e madeira já tinha muita menina de bobeira por ali. A coisa acontecia de modo menos ostensivo, mas sempre aconteceu. Prova disso é que durante a noite as moças só andavam na “calçadinha” que passava atrás das barracas se acompanhadas. Ainda que se diga que o problema era só violência e assaltos, todos sabiam que havia boates e bares onde os turistas não “respeitavam” as mulheres.

E o que aconteceu? Varreram-se as barracas do local e trocaram pelos minúsculos quiosques, calçadão mais largo e muita campanha publicitária. Passada a novidade, tudo voltou a ser como antes. Aconteceu que o número de turistas aumentou, a cidade continuou crescendo e a casa do Morro do Careca virou a esquina do sexo, a casa de mãe Joana onde o turista manda porque detêm a grana. Triste, mas chocantemente normal, como já aconteceu em várias cidades do mundo. Olhar agora com ar de desencanto e surpresa é hipocrisia. Qualquer experiente consultor de turismo teria cantado essa bola, talvez ainda a tempo de alguma medida preventiva.

Dentre as medidas que já foram sugeridas para melhorar o clima à beira mar estão câmeras nas ruas, conscientização dos taxistas, opção de lazer e educação para os jovens, buscar o turismo de famílias e até a criação de uma zona livre de prostituição para natal (sei não, mas acho que vai ser num hotel da via costeira). O título deste texto vem das conseqüências óbvias: as câmeras e a consciência dos taxistas só valem para coibir a exploração de menores; oferecer lazer e educação é ótimo, mas falta o meio de vida, din din; buscar famílias vale a pena, mas ninguém pode proibir os homens de vir pra cá; e zona livre? Ah! tenha santa paciência... o resto vai virar proibida por acaso?

Natal está tentando resolver problema de cidade grande pensando como gente pequena. A ação por enquanto tem que ser da sociedade toda. As mulheres que não pretendem prestar nenhum serviço denunciam o assédio, os pais educam os filhos, o Estado protege as crianças e o natalense elege outra praia como point. Porque a prostituição, pelo menos das maiores de idade, ainda vai ter o endereço mais nobre da cidade por um bom tempo.

segunda-feira, abril 03, 2006

Sétima arte - A mais efêmera é também a mais cara


Todo mundo gosta de arte. Até quem afirma o contrário se contradiz na frente da primeira manifestação que agrade aos olhos ou ouvidos. Todas são belas: arquitetura, literatura, pintura, música, dança, escultura e o cinema. Esta última, junto com a música, é foco de investimentos maciços da indústria cultural, onde podemos acompanhar desde filmes memoráveis até músicas que entram pra história. Infelizmente temos igualmente filmes toscos e puramente embasados na beleza das protagonistas e músicas cuja letra tem a profundidade de um pires. Fez parte. Para sair algo bom, muita coisa meia-boca tem que ser produzida também. Além do mais sempre há o grito de guerra do empresariado “é isso o que o público quer”.

No caso do cinema, chamo-a de efêmera, porque, para assistir um filme o telespectador pára diante da tela, assiste e vai para casa, só vendo aquele mesmo filme de novo quando comprar um DVD ou mesmo baixá-lo pela Internet. Neste intervalo provavelmente ele já viu outros... Além da telona eles passam aos montes na tv, em vários horários. Se a história não tiver sido especialmente boa, provavelmente ele nem lembrará direito. Ao contrário da música, que levamos no carro, nos I-pods, colocamos pra escutar enquanto trabalhamos e ect, não se pode ver um filme sempre que se quer. Os mais curtos duram 85 mim e mesmo os mais aficcionados não agüentam, nem tem tempo para ver o mesmo filme dia após dia. Cinema é efêmero não pela qualidade, mas pela quantidade e pelo nosso ritmo de vida.

A despeito disso, frequentar o cinema requer um “investimento” que torna proibitiva a ida com mais freqüência da maioria dos espectadores. Quem gostaria de ir toda semana tem que se contentar com uma vez ao mês. Tenho colegas que por ter família já não vão ao cinema há anos, uma vez que a ida de um casal com duas crianças (num início de noite por exemplo) bate em 42 reais!!! Isso sem pipoca - que ultimamente também está sendo cobrada a preço de ouro. Talvez em São Paulo este preço não seja significativo, mas aqui na terra do sol o salário comercial paga 339,00. O que faz com que esta pequena "farra" de sexta à noite leve mais de 10% do salário.

Todos sabem que para produzir uma fita gasta-se milhoões, que mais outro tanto vai para a publicidade e divulgação da história, que os donos das salas tem custos altos para manter tudo lindo e cheio de tecnologia. E ninguém quer abrir mão das novidades, dos efeitos, dos atores talentosos, do conforto das salas e da segurança dos shoppings. O que ocorre é o velho fenômeno de um argumento não suplantar o outro. Reconhecer que o filme vale o que se paga é uma coisa. Comprar ingresso e entrar na sala escura é outra. O próprio brasileiro passa por isso sempre: explica por A mais B porque precisa e merece aumento de sálário, o patrão eté concorda mas...sabe como é, não dá!

O fenômeno tende a se agravar e foi abordado até por revistas de circulação nacional. No caso a indústria cinematográfica teme o curto período de tempo que existe hoje entre o lançamento do filme e a venda oficial em DVD. O argumento é a desmotivação das pessoas em assistir na telona algo que logo estará nas gôndolas. Fica o convite a uma reflexão: Quem gosta de cimena deixa de ir porque logo mais sai o DVD ou fica de fora por faltar grana para um ingresso tão caro? Em se tratando de Natal certamente a resposta é: baixa o preço que a gente bate ponto.

sábado, abril 01, 2006

A Quitanda



Sinceramente não sei se todo mundo é como eu. Estando empregada ou não, adoro dar uma olhada nos classificados de emprego. É como dar uma zapeada nos canais para ver "o que mais está passando", simplesmente irresistível saber o que há de oportunidade no mercado da nossa cidade. Até fora dela: fui a Recife no início de fevereiro e não deu outra, passei a mão no jornal do hotel e fui olhar as vagas (sim queridos, lá tem mais emprego e sim, paga-se melhor que aqui).

Como já estou "especialista" nos classificados daqui, já sei quais são as empresas que sempre anunciam - o que indica que ninguém suporta trabalhar lá - quais as picaretagens [ganhe até 2.000, ótimo ambiente de trabalho e etc] pra você, que já está liso, ir atrás de uma comissão impossível e na real só ficar com pouco mais de um salário comercial. Outra que aparece muito são de agências. Todas cobram 5 reais pelo cadastro, num exemplo de grupo mais cartelizado que os postos de gasolina. Mais um ponto pitoresco, pra não dizer nefasto, são as exigências: disponibilidade de horário - leia-se, nada de estudar, ser mãe ou simplesmente querer organizar seu horário; remuneração compatível com a função - só se for com a função de ser pobre!

Enfim, os anúncios fazem a gente oscilar do desespero absoluto ao mais absoluto desespero. Por já estar acostumada foi que me espantei com um anúncio que saiu. O cara queria uma pessoa para uma pousada: "procura-se empregada doméstica para pousada em Ponta negra (pra não pagar como camareira ou asg), que durma no emprego (vai trabalhar de noite, com certeza), sem filhos e saiba servir mesas (ganhou um garçon de graça). Até aí eu já imaginava mas na última linha do anúncio vinha a pérola: paga-se salário. Jura? dá até pra imaginar a cara da desempregada lendo aquilo "ah, que pena, queria um que não pagasse..."

Fiquei muitos dias com aquilo na cabeça. Às vezes achava graça, outras pensava em todas as revoluções trabalhistas que a humanidade fez, cheguei a ficar curiosa pra saber se alguém foi. Imagino que depois de acabar com a escravidão, inventar o salário, o piso, a previdência, as leis, estamos refazendo um ciclo, indo de novo em direção à semi-escravidão do trabalhador. O aumento absurdo de faculdades, colocando milhares de profissionais que estudaram tanto para trabalhar por um salário vil faz piorar o problema numa esfera mais próxima da minha. O que se faz com a profissão de jornalista é quase o que o cara da pousada queria... mas o pior foi constatar que Natal não tem mercado de trabalho. Natal tem quitanda!