Ainda assim, sempre que escuto as lamúrias do empresariado fico com pé atrás. Raiva de pagar imposto eu entendo, mas custo a acreditar que eles realmente aumentariam salário de alguém. A dúvida fica apenas em nível local, imagina-se que no sudeste a medida realmente faria efeito para quem merece. Falar dos hábitos e cultura de nossa cidade é difícil, pois Natal está cada vez mais cosmopolita e o progresso avançou rápido por aqui. Já a cultura do empresariado local é mais homogênea, enraizou-se com força e resiste a consultores, tendências e pedidos de demissão.
Aqui se implantou a mentalidade de que todos devem ganhar salário mínimo. (há, claro, umas poucas e honrosas exceções, a quem se deve tirar o chapéu) De resto quando se oferece um pouco mais é a título de “comissão”. A desculpa é a situação da empresa, a dificuldade de manter o funcionário e por aí vai longe. Não tirei minhas conclusões a esmo. Observo as nuances perversas deste mercado há uns dez anos. Exige-se um funcionário exemplar (não que todos sejam) para tratá-lo como qualquer outro. Nesta terrinha já vi a diferença de salário entre um faxineiro e um auxiliar administrativo não ultrapassar 100 reais.
Como se não bastasse, num mundo onde tudo é on-line, os patrões gostam de efetuar o pagamento em dinheiro, fazendo uma fila na frente da porta, criando um ambiente semi-feudal. Não raro é o próprio dono que o faz, de cara feia, para espantar eventuais pedidos de aumento. Outra prática comum por aqui é comparar o trabalho altamente especializado de alguém que estudou muito com o de outra pessoa que faz algo completamente diferente e soltar: “veja fulano, trabalha tantas horas a mais que você e não vive reclamando”.
Os cursos de gerência, de liderança e administração estão cheios de empresários que se sentem arrojados estudando. Deve ser pra fazer tipo, pois da porta pra fora esquecem que um colaborador – para usar a palavra da moda – produz menos quando se sente desvalorizado, que não se consegue comprometimento na marra, que salário mínimo deve ser piso e não regra e, principalmente que vale muito ter alguém que não vai trabalhar todo dia pensando em ir embora. Esquecem tudo! A desculpa dos impostos é uma muleta excelente nestas horas. De tanto ver e ficar sabendo de coisas assim é que espero com dupla ansiedade por reformas. Quem pensa dessa forma não vai aumentar salário de ninguém e será curioso acompanhar qual será o novo bode expiatório que levará a culpa pela situação dos trabalhadores.