Bem Vindo

Você que está sempre por aqui ou você que chegou agora, fique á vontade pra comentar, criticar, adicionar. Nem só da mente louquinha da autora é que o blog se alimenta!

quarta-feira, maio 24, 2006

Folheando o livro da vida


Esta semana inventei de voltar a estudar. Fazer o caminho de volta a faculdade para galgar outras dimensões profissionais. Opa! Este frase ficou rebuscada demais e não disse a verdade. De novo: Eu quero fazer outro curso porque não há muitas oportunidades em jornalismo e porque a profissão paga pouco. Pronto, menos escritora e mais jornalista.

Claro que chegar a fazer outro curso depende de passar outra vez no vestibular. A primeira já foi uma façanha, mas vou ter que fazer o raio cair duas vezes no mesmo lugar. Pensei que o mais difícil fosse ter de estudar algumas coisas de novo. O segundo grau tem uma tuia de coisas que simplesmente a gente não usa nunca. Rever certas matérias chega até a ser engraçado.

O que eu não esperava era lembrar de coisas de mais de 10 anos atrás. Não, infelizmente não foi a matéria que eu lembrei (ó lástima...), foi toda a movimentação de vida que existiu naquele período. Vou folheando os livros e lembro como o futuro nos parecia distante naquela época, como vivíamos tudo na base do tudo ou nada fazendo tragédia grega de qualquer coisa. Hoje lembrei até da aula que o professor deu pra explicar as guerras do oriente médio (e esse povo segue brigando até agora) A turma que andava junta era composta por meninas que tinham famílias bem diferentes, mas que eram capazes de dizer quase a mesma coisa pra gente – menina, a vida não é só festa (pra gente era), roupa nova não tem importância (gente de 16 é bloqueada pra este tipo de informação), escolham bem o curso (com base em quê?). Demos muito trabalho, sobretudo eu, que não tenho muita paciência para dissimulações. Éramos felizes na nossa inconseqüência e na nossa falta de compromisso com a realidade. Nossa maior demonstração de compromisso com a vida foi resumida por uma colega: “acho bonito que vocês não estudam pra conseguir nota, estudam pro vestibular”. E era mesmo, mas de bonito não tem nada, fora que tinha muita fachada da minha turma. Gostávamos de passar por sabichonas sem ser.

Esse era o grande horizonte que tínhamos à frente. O vestibular. Passar por ele era prova de dar conta do investimento da família, era ter moral com os amigos, era virar um pouco adulto. Era mais importante do que saber o que ia se fazer com o tal curso escolhido. E foi aí que eu e mais uns tantos de perderam na imensidão de caminhos que há depois da porta da faculdade. Idealizamos tudo, até a carreira que queríamos, mas não tínhamos a mínima idéia de como fazer pra chegar lá.

Hoje pra escolher um curso estou ponderando mil coisas, pensando em minhas habilidades, meu modo de trabalhar e vejo que falta muito ainda o que ensinar para os jovens que fazem vestibular. Vejo os colégios chamarem profissionais para dar palestra pros alunos. Mas porque só chamam os de ponta, com estremo êxito na profissão? Numa palestra pra 150 alunos, se sair dois de ponta dali é muito. Eu chamaria o profissional médio de todas as carreiras. Aquele que é empregado, que recebe ordem e não nada em grana. Seria menos glamour, mas seria bem mais real e mais correto com aquela platéia que precisa ver a vida como ela é.

domingo, maio 14, 2006

Pra que serve um sonho?


No mês de maio padeço de um mal que costuma pegar as pessoas no fim do ano. A velha reflexão a cerca do quanto o ano que se passou foi ou não proveitoso, se fizemos coisas que levam pra frente, se aprendemos mais, se a vida avançou ou não. É a “retrospectiva” que nos realistas costuma causar mais angústia que prazer. O nível etílico das festas de dezembro me impede de entrar nessa furada e ela acaba acontecendo por volta do dia do meu aniversário. Acho até pior, já que além da reflexão tenho que adicionar mais um aninho no bolo – o que é péssimo, embora eu já tenha solucionado isso aproveitando a pouca memória do brasileiro – faço 23 três vezes, 26 umas duas e vinte sete talvez só ano que vem.


O período meditativo deste ano está servindo para mostrar que não adianta muito fazer projeções para o ano seguinte! Geralmente acontecem coisas que não são de nossa vontade, mas acontecem, e aí temos que nos virar nos trinta. Nada contra planejar, mas desisti de idealizar os resultados. A surpresa que vier será lucro. Isso vale tanto para vida profissional quanto para dietas. Outro ponto nebuloso é a vontade nefasta de brincar de futurólogo que quase todos nós temos – “daqui a dois anos estarei na cadeira do chefe”, e passado os dois anos lá está você, teimando em fazer profecia.


Não sou contra fazer planos. Planos que tenham capacidade de se tornar realidade. Num plano estão listados todos os pontos e o trajeto necessário para chegar ao ideal almejado. O resto é sonho! E na verdade a gente sonha muito mais do que planeja. Num mundo onde a velocidade das coisas e informações é atroz, onde a violência nos tirou muito da liberdade, onde quem nos representa nos envergonha é mesmo necessário sonhar.


Talvez porque sonhos não sejam feitos necessariamente para se tornar realidade. São momentos de pura fantasia. Um pouco do que o ser humano perdeu quando lhe foi imposto que precisava ser competitivo desde o berçário e que falar três línguas é essencial. Fugir da realidade de vez em quando é um ótimo artifício para manter a mente sã. A partir deste mês vou fazer planos mais pé no chão, mas com a certeza de que vou sonhar alto, todo dia e sem sofrer se nenhum deles se realizar.

sábado, maio 06, 2006

Pimenta no dos Outros é Refresco


Pimenta Neves sai em liberdade do julgamento que durou 34 horas. Opinião pública pedindo justiça, família com coração despedaçado, advogados da acusação e promotoria empenhados em mandar o monstro pra cadeia. Em vão. "Ganhou" como prêmio poder responder todos -TODOS - os recursos em liberdade. Se levou cinco anos e oito meses pra ocorrer o primeiro, dá desgosto pensar quanto tempo esta palhaçada vai levar.

Matou uma moça linda, honesta, que só queria viver, porque se achava o dono do mundo, senhor de todas as coisas. Ela não quis mais o namoro, ele decidiu que ela não viveria mais. Hoje tenta passar a imagem de que matou sob forte emoção. Deve ter sido a emoção de saber que por ter dinheiro, passaria muitos e muitos anos em liberdade e que se, e somente se, parasse na cadeia já seria na decrepitude de sua velhice, já perto de seu juízo final (esse sim deve levá-lo para um lugar bem merecido).

A certeza da impunidade - principalmente para ricos - está produzindo no Brasil uma nova casta de criminosos. Eles conhecem bem a lei e não se importam de confessar os crimes. Tem advogados tarimbados que fazem fortuna defendendo crápulas às custas das brechas na lei.

Mas e a lei? Vista sempre como tão cristalina, tão reverenciada, a que tarda mas não falha. Por vezes a gente esquece que estas leis são feitas e aprovadas por uma gente que rouba dinheiro público, engana milhares de eleitores, responde trocentos processos e usa desta mesma lei pra não ver o sol quadrado. Somos uma nação de vítimas de uma lei que foi feita pra livrar o condenado de sua pena. Ele até tem julgamento, mas só de mentirinha, pra acalmar os ânimos, é só um pequeno desconforto antes de voltar pra casa. Fica mesmo na cadeia aquela pobre mulher que roubou uma margarina ou Marcos Mariano, motorista de táxi que passou 19 anos na cadeia mesmo sendo inocente (nossa, a propalada justiça não descobriu que ele não era culpado?).

Se você tivesse um banco entregaria a chave do cofre a um cleptomaníaco? Deixaria sua padaria na mão de um comedor compulsivo? Deixaria seu filho na casa de um tarado? Então porque deixamos nossas leis para uma turma que só pensa em nos passar pra trás? Mostraram ontem para a sociedade que matar não dá cadeia. Cuidado por onde você anda partir de agora...

terça-feira, maio 02, 2006

Lapada na Censura


Ontem me pegaram pra Cristo. Minha cunhada descobriu que meu filho de sete anos gravou lapada na rachada em um CD. Isso aí mesmo! Tanto atentou a mim e ao tio que, não suportando mais tanta insistência, o pimpolho ganhou sua lapada para ouvir quantas vezes quiser. A lista de impropérios foi grande. “Como você escreve esculachando a música e seu filho grava? Você permitiu isso?” Argumentei que tanto fazia ter ou não um cd já que o hit toca no rádio toda hora (e, convenhamos, eles capricharam no ritmo). Não convenci. “Mesmo assim, desse jeito é um incentivo seu” terminei a conversa com um péssimo eu não acho.


Mais tarde, como a gente se adora, voltamos ao assunto. A junção de uma pedagoga com uma jornalista pode ser surpreendente! Mesmo levando na brincadeira deu pra ver que ela realmente acha insano como eu libero quase tudo pra ele. Não sei muito sobre criar crianças, mas sei pelo menos o triplo sobre como não cria-las. Estou certa de que esconder dos pequenos as mazelas do mundo, proibir manifestações de gosto pessoal, vetar coisas ou amigos em casa e fazer do lar o “ambiente puro, onde não se vê não se escuta nem se fala porcaria” é problema na certa. Funciona de mentirinha só enquanto são pequenos. Depois o castelo da mãe iludida cai e ela diz que não sabe de onde o filho tirou aquelas idéias...


Eu também não queria ele escutando lapada. Assim como não queria que ele colocasse a mão suja na boca quando era pequeno, gostaria de ter evitado as quedas que castigam joelhos e cotovelos, preferia que não brincasse com meninos malvados e muitos etc. O que eu aceito deve levar muita mãe pro analista. Ele pode ser pequeno e depender de mim, mas isso não me dá controle sobre a mente dele. Só permitindo eu posso ajudá-lo a escutar também outras coisas, filtrar e chegar por ele mesmo à conclusão de que aquela música não vale nada.


Inteligente como sempre, a pedagogia aceitou os fatos do jornalismo nu e cru. Na minha profissão é preciso se basear em fatos, a análise nunca acontece por hipóteses. O que vejo são adolescentes que não conversam nada com os pais. E pais que acham seus filhos um primor de educação porque “aqui em casa nunca deixei entrar essas coisas”. Eu deixo porque sou ponte, não sou parede. Quero que ele tenha a certeza que pode me mostrar qualquer coisa que queira (e olha que ainda assim ele vai esconder muuuita coisa – experiência própria). Eu deixo porque acho que a educação da hipocrisia já fez vítimas demais. Deixo principalmente, porque assim deste meu jeito ele já ouve também Gal Costa, Mozart, The Calling, Chico, Beatles, Luiz Gonzaga e muita coisa boa! Será que os anjinhos que são proibidos de ouvir lapada já passaram de Xuxa?